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FÉ E ONTOLOGIA


Cesóstre Guimarães de Oliveira
Um irmão mórmon maçom, que em sua vida eclesiástica tem desenvolvido diversos cargos de proeminência (na Igreja), me escreveu, eis sua fala:

A DÚVIDA
Caro Cesóstre,
Em primeiro lugar gostaria de expressar meu carinho e apreço pelo blog mormonsmacons, sendo eu um de seus leitores mais assíduo, me arrisco a dizer que o blog se tornou uma ferramenta de comunicação que preenche as lacunas deixadas na história do mormonismo por aqueles que a deveriam preservar. O trabalho que vem desenvolvendo talvez nunca seja completamente compreendido, mas como você mesmo disse certa vez, "a unanimidade é uma utopia".
Embora já tenhamos trocado vários e-mails, além das muitas conversas por telefone, (...) esta será a primeira vez que terei meu pensamento tornado público. E só o faço por entender que estou ajudando aos que vivem as mesmas dúvidas que eu.
(...)
Mesmo acreditando que a verdade sempre será benéfica (você disse isso em um de teus textos), pude notar no resgate que faz da história, inevitáveis efeitos colaterais, como por exemplo: minha constante luta por conservar o testemunho.
Você é sabedor de que foi a partir dos teus escritos que nasceu em mim o interesse pela Maçonaria. Inclusive, ao ser comunicado do memorável dia em que seria iniciado, depois de minha esposa, você foi a primeira pessoa com quem compartilhei esta noticia. Na ocasião, novamente te perguntei se minha fé corria risco, se existia algum conflito entre a Maçonaria e a Igreja, ao que você respondeu: "siga tranqüilo, na Maçonaria não encontrará nada além daquilo que é ensinado como verdade, pela Igreja".
Agora iniciado Maçom, nutrido pela fome de conhecimento, tenho buscado mais e mais conhecimento, e em alguns momentos esta busca tem me levado a novos horizontes, (...) mas, acredito que estes novos caminhos estão em harmonia com o texto que nos manda resgatar: (...) qualquer coisa virtuosa, amável ou louvável (...) (13º Regra de Fé), de onde quer que elas estejam.
Agora que tenho o privilegio de lapidar minha própria pedra bruta, mesmo estando sentado em lugar de pouca luz, consigo ver e ouvir atentamente a tudo, foi lá que te reconheci, quando me reconheceste. Também, foi lá que aprendi com tua ajuda o porquê de "sacrificar o Homem profano, para permitir nascer o Homem Maçom".
Ecoando em minha cabeça, são tuas palavras que me incentivam a galgar os degraus sonhados por Jacó. Agora que posso enxergar melhor, não tropeço mais. Porém (...) buscar a verdade é um desafio colossal, isto também se tornou um fardo para mim. Mas não me queixo, você havia dito (...) que algumas vezes o caminho é solitário, até que se descubra que nunca se esteve só.
Foi andando por uma estrada sem fim, que me deparei com algo que julgava saber. Agora corretamente instruído por quem viveu a história, a luz foi dada!
Já fazem alguns anos que descobrir em um apologista anti mórmon que o "Profeta Joseph Smith só restaurou os rituais da investidura dois meses após iniciado Maçom", durante muito tempo vive com a dúvida, finalmente parei de perguntar, havia cansado, sem obter uma resposta satisfatória, por que nossos manuais não falam sobre isso?
Buscando uma resposta te encontrei, e notei tua solidão na defesa de nossas crenças, já que outros autores apontam as semelhanças como prova de um possível plágio cometido pelo profeta Joseph Smith. Acusam-no de haver usado os rituais da maçonaria para estabelecer os rituais do templo. E assim..., entalado num universo de afirmações e negativas, confesso que não tenho mais certeza de quem estar certo ou errado.
Mas continuo minha jornada de Mórmon Maçom, mesmo não tendo permissão de caminhar além dos passos de um ébrio. Agora que tenho quase dois anos de iniciado, (ou seriam sete anos de vida?), descubro que aprendi muito mais sobre a investidura do templo e seu significado, após a iniciação maçônica, do que nos meus vinte e cinco anos anteriores de frequência ao templo. Hoje vivo um grande conflito, não sei se conseguirei continuar negando a acusação de que o profeta de Deus copiou e alterou os rituais da Maçonaria, lhes dando nova realidade, transformando-os nos rituais do templo (que aprendi serem sagrados).
(...)
Caro irmão, para equacionar minhas dúvidas não diga que devo procurar meus líderes, tenho feito isto há bastante tempo, se busco tua ajuda é por que eles preferem me ignorar. Várias foram minhas tentativas de dialogar, inclusive com aqueles que dividem uma designação comigo. Deles somente recebi, além do olhar de reprovação e censura, (...) "conselhos" que mais parecem ameaças, tudo que dizem é que devo ter "cuidado com a apostasia". O ultimo a quem recorri, inflado pelas boas intenções, e sem demonstrar nenhum interesse por minhas dúvidas, apenas disse: "ore com sinceridade, pergunte a Deus, e Ele aquietará teu coração". (sic) tenho feito isso mesmo antes de recorrer a eles, mas a resposta não veio.
O coração não aquietou.
- Quantas batidas serão necessárias até que alguém pergunte o que quero?
- Não sei!
(...) por esta razão recorro a você, que se achar justo, me ajude a entender o que é perfeito.
Atenciosamente,
(...)
A RESPOSTA
Querido irmão (...),
Não ouso censurá-lo por me escrever, entendo teu e-mail como fruto da providencia divina, pois tuas palavras não retratam apenas tuas dúvidas, elas somam às de vários outros irmãos que comigo compartilharam suas incertezas. Saiba que mesmo quando se sentiu só, eu estava contigo. Quando teve que descer à masmorra, eu também estava lá. Quando as espadas tilintaram, eu te defendi. Quando cruzou as águas caudalosas, nadei ao teu lado. Quando estavas cego e precisou de uma mão amiga, eu te guiei. Tuas angustias também são minhas, entendo cada uma de tuas dúvidas, sei de tua necessidade, um dia elas também foram minhas... Mas "eu venci o mundo" (João 16:33) e oro para que você também vença e não esqueça quem é.
Faça como Paulo: combata o bom combate, acabe sua carreira, e guarde a fé (II Timóteo 4:7). Se fizer assim, descobrirá que no final tudo é explicado, até mesmo o que agora parece sem explicação.
Lendo as questões que suscitou, me preocupo com risco que corre tua vida pós-mortalidade. A simples sugestão de que poderá concordar com aqueles que atribuem a condição de plagiador ao profeta Joseph Smith agride nossa inteligência religiosa.
Na defesa de tua fé, é importante que entenda que se aceitar como verdade fria, sem nenhuma análise de contexto, a possibilidade do profeta de Deus ter se apossado dos rituais maçônicos, para "criar" a cerimônia de investidura do templo, terá também que aceitar que todo o trabalho que realizamos, tanto pelos vivos, quanto pelos mortos, foi em vão. Terá que aceitar que boa parte de tua vida foi dedicada ao nada. Se esta fosse á verdade, a própria humanidade estaria em risco, pois não haveria justificativa para nossa existência.
Nem a razão, nem a fé, permitem que eu acredite que durante vinte e dois anos de minha vida estive destinado ao nada. Caro irmão, não deixe que lhe convençam que sua vida pode ser explicada como uma medíocre participação no Show de Trumam.
- Pode abrir os olhos meu irmão.
- Veja a luz!
Quem melhor do que um Mórmon Maçom para dizer ao mundo que o profeta de Deus não cometeu um plágio?
Não leste que a maçonaria durante suas heras de existência absorveu, [para guardar], o bom e o belo das religiões, tornando-se guardiã das coisas boas?
Não nego as semelhanças, se elas existem, por que devem ser citadas como plágio, já que nenhuma das partes intencionou copiar?
Eu tenho o testemunho de que Joseph Smith foi um verdadeiro profeta de Deus, e isto eu compartilho com você. As sagradas investiduras do templo não podem ser explicadas como simples plágio, apenas por que estes rituais sagrados também podem ser encontrados em outros locais.
Ao estudar a doutrina Mórmon aprendemos que a plenitude do evangelho primeiramente foi concedida a Adão, que recebeu todos os sinais, palavras e aventais a que se refere. Porém, embora, no principio, o pai Adão, e outros signatários do plano divino, tenham sido zelosos com as coisas de Deus, inevitavelmente estas coisas foram incorporadas a outros rituais. Hoje, ainda é possível encontrarmos fragmentos dos rituais sagrados que são praticados em nossos templos de adoração, distribuídos em todas as partes do mundo, e por que não dizer, até mesmo na Maçonaria.
Para completar meu raciocínio recomendo que faça a leitura do artigo intitulado "Qual a Razão dos Símbolos?" [A Liahona, Fev 2007, 14], pois nele o Presidente Gordon B. Hinckley, usando de uma liberdade conferida somente aos profetas de Deus, pergunta ao mesmo tempo em que responde: "Teria Joseph Smith reinventado o templo, reunindo novamente todos os fragmentos — judeus, ortodoxos, maçons, gnósticos, hindus, egípcios, etc.? Não, não foi assim que aconteceu. Pouquíssimos fragmentos estavam disponíveis em sua época, e o trabalho de reuni-los, como vimos, só começou na segunda metade do século XIX. Mesmo que estivessem disponíveis, aqueles míseros fragmentos não poderiam ser reunidos para formar um todo. Até hoje, os estudiosos que os coletam não sabem o que fazer com eles. (...) O fato de que algo de tamanha plenitude, coerência, engenhosidade e perfeição tenha sido trazido à luz num único local e momento — da noite para o dia, por assim dizer — é uma prova muito adequada de uma dispensação especial.".
Não creio que as investiduras sejam apenas resultado de um plágio. A explicação que apresento como justificativa para as semelhanças entre os rituais da Maçonaria e o ritual Mórmon pode ser encontrada em meu livro os "Os Mórmons e a Maçonaria – Os Construtores de Templos", e ainda, se pesquisar encontrará a afirmação que faço, onde digo que tanto a Igreja quanto a Maçonaria beberam em uma mesma fonte, as duas fraternidades habitaram a mesma morada, compartilharam o mesmo espaço, trabalharam com a mesma ferramenta, então nada mais natural que compartilhem do mesmo ritual.
Infelizmente, mais uma vez, minhas afirmações serão causadoras de novas críticas. Alguns irmãos mórmons tomarão minhas palavras na literalidade, e darão suas próprias interpretações a elas, dirão coisas que eu não disse, e a partir de suas conclusões entenderão que não precisamos mais da Maçonaria, que nada justifica um Mórmon ser iniciado Maçom, já que a verdade foi restaurada. Por isso recomendo que não ignore as lacunas deixadas pela 13º Regra de Fé quando diz que "(...) Se houver qualquer coisa virtuosa, amável, de boa fama ou louvável, nós a procuraremos".
Embora o fonema do texto sagrado não diga que alguém deve ser iniciado Maçom, somente por que na Maçonaria existem coisas boas, os sinais gráficos enfatizam as convicções do mormonismo quando diz: "Cremos em ser honestos, verdadeiros, castos, benevolentes, virtuosos e em fazer o bem a todos os homens; (...)". Sendo assim, esta afirmação nos leva à compreensão de que tanto a Maçonaria quanto a Igreja são semeadoras de atos bons, nos permitindo ter a oportunidade de realizar todas as coisas boas, afinal é "Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho." (Ec 4.9). "E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa." (Ec 4.12).