Translator

A MAÇONARIA E A EPISTEMOFOBIA CRISTÃ

Cesóstre Guimarães de Oliveira
cesostre@hotmail.com


Como se estivessem a cumprir um entediante ritual, alguns líderes religiosos que pensam estar num estado de absoluto esclarecimento espiritual, têm apresentado a Maçonaria aos seus fiéis como se esta fosse uma entidade maligna que guarda segredos obscuros. As acusações que eles têm nos infligido vão da sodomia ao sacrifico de inocentes crianças (vide Pastor Francisco Vieira - http://www.centraldepregadores.com.br/francisco-vieira/). Todas estas acusações seriam cômicas se não fossem trágicas. Embora a maioria das pessoas tenham conhecimento de que estas acusações beiram as alucinações de um megalomaníaco que pensa haver chegado ao estado divino da onisciência, inevitavelmente existem aqueles que acreditam nestas bobagens. Embora não devesse, ainda fico chocado, isto acontece principalmente quando vejo homens religiosos que se dizem esclarecidos pela verdade, se auto-elegendo defensores do cristianismo, conduzindo os incautos, que num torpor mental, alucinados pelo medo de um inferno que só existe nas tradições de algumas religiões (1), finalizam seus pensamentos baseados na intolerância e no preconceito. Eles combatem a Maçonaria como se nós maçons fossemos seus inimigos, esquecem até mesmo daquela máxima do cristianismo, que diz: Amai-vos uns aos outros, conforme eu vos amei (João 15:9), este me parece ser um amor incondicional. Os iconoclastas da razão e da verdade têm tentado, algumas vezes com sucesso, doutrinar aqueles a quem chamam de suas ovelhas, que por sua vez não passam de pequenos gnomos (2), que para se comunicar emitem estranhos sons que lembram um idioma desconhecido. Infelizmente estes gnomos acreditam nas injurias que apontam a Maçonaria como um culto de adoradores do Diabo, ou de outra entidade maligna qualquer. A idéia é bombardear tão agressivamente a Maçonaria que os desmiolados gnomos não consigam mais diferenciar o certo do errado, ao proceder assim estes iconoclastas fazem com que todos passem a concordar com suas idéias mirabolantes. Como exemplo disto, no início do século XVIII, o Vaticano emitiu uma bula papal onde tornou pecado mortal a filiação de seus membros junto a Maçonaria, inclusive enfatizando ameaças de excomunhão para aqueles que descumprirem esta lei (sic). Talvez você diga, mas isto foi á muito tempo, agora é diferente, conheço vários padres que são maçons. Concordo com esta afirmação, eu mesmo já tive a oportunidade de encontrar alguns irmãos padres, e a eles peço desculpas se minhas palavras agridem sua fé, não é esta a intenção, apenas tento mostrar a incoerência de alguns líderes religiosos.
Pois bem, infelizmente, esta clara demonstração de incoerência comportamental não ficou perdida nos anos do Século XVIII, a infame lei foi ratificada em 1983 pelo cardeal Joseph Ratzinger quando a “Santa Sé” (Santa?) “zelosamente” emitiu novo texto, ressuscitando a afirmação que proíbe um católico de se filiar a maçonaria (3). Oxalá, tanto zelo, um dia seja direcionado às vitimas da pedofilia.
Os predadores da Arte Real na ânsia de nos combater, usando de métodos incoerentes, têm dito existir no contexto maçônico uma filosofia que se contrapõe à doutrina cristã, afirmam que esta “filosofia maçônica” sempre se apresenta com intenções agressivas a fé cristã (sic). Eles alegam que nossas cerimônias se tornam em afronta direta ao cristianismo, por isso temos que ser combatidos. No entanto, esta alegação desemboca na incoerência exacerbada dos homens santos, pois ela não encontra respaldo na verdade, suas afirmações em nada se coadunam com os princípios da ética e da moral maçônica.
Agindo iguais a hienas famintas que emitem falsos sorrisos, estes estranhos protetores do bem vivem todos os seus momentos arquitetando planos de como fazer para vender uma imagem negativa da Maçonaria, eles insistem em afirmar que a “doutrina maçônica” é coroada pela visão deísta do naturalismo criacionista (4). Esta é apenas mais uma, na soma das inverdades que apregoam contra nós maçons. Não importa quantas vezes venhamos a repetir que “A maçonaria não pode ser comparada a uma religião”, na verdade não temos sequer uma doutrina que lembre a religião. Ninguém poderá negar saber que a Maçonaria não se envolve em questões teológicas, pois além de falar claramente sobre isto, temos deixado que as dúvidas concernentes a fé sejam dissipadas por cada individuo na religião que elegeu como sua.
Mesmo assim, tencionando ratificar sua verdade, nossos oponentes deliberadamente não informam aos seus signatários que entre os maçons não existe um único ateu, pois um de nossos landmarks (5) nos proíbe de aceita-los. Os religiosos, aqueles que combatem a Arte Real, nos acusam de paganismo em mais uma intenção de conduzir seus seguidores pelos caminhos da ignorância e do preconceito, eles questionam a referência que fazemos ao “Grande Arquiteto do Universo”, inclusive dizendo que o “Grande Arquiteto do Universo” a quem nos referimos é um deus próprio da Maçonaria, e não o Deus da fé que o individuo professa.
Gostaria muito que todos meus leitores entendessem meus objetivos na escrita, mais nem sempre é assim, algumas vezes nem mesmo meus irmãos maçons me entendem. Certa vez um irmão maçom que me leu enviou-me um e-mail com seus comentários onde me dizia que escrevo para defender a Maçonaria, ele disse: “A Maçonaria não necessita de defensores”. Concordo em gênero, numero e grau com esta afirmação, mas, também espero que meu irmão releia meus textos e entenda que não os escrevo com o intuito de defendê-la, e sim, a mim mesmo. Quando me permitem a defesa, apresento como definição do que é a Maçonaria a afirmação que diz: “Maçonaria é um lugar onde se reúnem os defensores da Liberdade e da Religião”. O reverendo Albert Gallatin Mackey, pastor protestante, autor de vários livros e artigos sobre a Maçonaria, a definiu como "uma ciência que se dedica a pesquisa da verdade divina."
Inevitavelmente sinto que sou um privilegiado por ser Maçom, pois foi na Maçonaria que vi pela primeira vez o liberalismo ser praticado em sua essência, sem que isto venha acarretar em prejuízo da amizade. Foi na Maçonaria, que pela primeira vez vi homens discordarem e mesmo assim continuarem se respeitando como irmãos. Ao falar assim espero que entendam que estou somente tentando dizer quer as crenças do individuo jamais serão discutidas ou questionadas em Loja, com isso estamos evitando as discussões entre os que têm convicções antagônicas.
Fico incomodado em ver que o protestantismo tenta desencorajar a participação de seus seguidores, inclusive com ameaças de cadeira cativa no inferno para aqueles que ingressarem na Maçonaria, felizmente, em alguns casos essas ameaças tem se tornado em letra morta.
Fazendo um breve aparte, esclareço aos meus leitores que sou um membro ativo e atuante de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, penso também ser interessante esclarecer, mesmo em rápidas palavras, que nós mórmons não somos parte do seguimento protestante, e por isto, não devemos ser conferidos com eles. Quanto a Maçonaria, não existe na Igreja uma política oficial sobre a participação ou não de seus membros nela, nossa liderança maior (Primeira Presidência) tem deixado ao encargo de cada individuo esta decisão. Também a Primeira Presidência tem negado veemente a qualquer de seus líderes o direito, ou poder, de punir os mórmons maçons por sua simples condição de ser. Sempre que consultados sobre este assunto a Primeira Presidência têm alertado sobre a necessidade das pessoas reservarem algum tempo para a família, trabalho e Igreja, deixando os membros da Igreja livres para fazerem suas escolhas, além de deixar claro que não existe punição para os que ingressam na ordem.
Na verdade, nos primórdios da história Mórmon, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e a Maçonaria mantiveram uma relação amigável e caminharam lado a lado sem nenhum constrangimento para as partes. É fato histórico documental que a família do Profeta Joseph Smith Junior já em 1816 era muito atuante na Maçonaria. Quando os mórmons precisaram migrar de Kirtland para Nauvoo, o Profeta Joseph Smith Junior e vários outros líderes, incluindo os quatro primeiros que o sucederam à frente da Igreja, foram iniciados maçons. Quando a Igreja transferiu sua sede para Salt Lake City (Utah) em 1840, após a morte do Profeta Joseph Smith Junior, alguns líderes tentaram fundar uma Loja maçônica. No entanto, em função da animosidade manifestada em conflitos locais pelos maçons não mórmons, o Presidente Brigham Young não permitiu a conclusão deste projeto.
Recomendo aos que desconhecem a história do mormonismo em sua relação com a Maçonaria e desejam se aprofundar neste tema, que façam a leitura de meu livro “Os Construtores de Templos, bem como meus textos expostos na internet, para que melhor assimilem a questão aqui levantada.

APÊNDICE

1 – Não estou a afirmar que o inferno não existe, faço apenas uma critica a visão de alguns quanto a sua existência, corroboro as doutrinas de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também, no tocante a esta doutrina, conforme se encontra descrita em Princípios do Evangelho, cap. 46, pág. 282.

2 – Segundo a mitologia norueguesa o Gnomo vive aproximadamente 400 anos e quando se aproxima dessa idade, já começa apresentar sinais de envelhecimento tais como perda da memória e da agilidade. Eles são guardadores de tesouros inimagináveis. Aqui estou a fazer um comparativo entre os tesouros dos gnomos e os tesouros que todo ser humano guarda dentro de si, que são as virtudes, estes sim, são os verdadeiros tesouros que valem apena serem lapidados.

3 - Declaração de 26 de novembro de 1983 do cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (v. L´Osservatore Romano de 26.11.83):
Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da Maçonaria, pelo fato de que no novo Código de Direito Canônico ela não vem expressamente mencionada como no Código anterior.
Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
Permanece portanto imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.
Não corresponde às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique derrogação de quanto acima estabelecido e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, p.240´241).
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, e ordenou a sua publicação.

Card. Prefeito Joseph Ratzinger

4 – Naturalísmo: É uma teoria metafísica que defende que todos os fenômenos podem ser explicados mecanicamente em termos de causas e leis naturais. Para os naturalistas, a Natureza é indiferente às necessidades e desejos humanos - Criacionísmo: As idéias criacionistas, de modo geral, estendem a interferência divina além do ato criador. Deus, segundo a filosofia judaico-cristã, intervém diretamente no plano da matéria, uma vez que provoca, por exemplo, o dilúvio, assim como inspira Noé a construir sua arca e a conduzir nela diversos pares de animais, que povoarão posteriormente o mundo novo.

5 – Landmark: É um conjunto de princípios que não podem ser alterados para que se mantenha a unidade maçônica mundial que prevêem a obrigatoriedade dos maçons serem filados a lojas, da crença em um ser superior (O Grande Arquiteto do Universo), da obrigatoriedade de trabalhar-se em 3 graus simbólicos, entre outros.