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A PONTE ENTRE A CIÊNCIA E A RELIGIÃO

"Deus não teme a Verdade".

Amados Irmãos,

Eis um maravilhoso exemplo de investigação com mente aberta conduzida por indivíduos da mais alta inteligência mas que desconhecem o Evangelho Restaurado. Quem tiver discernimento (e um pouco da cultura científica necessária para a compreensão de certas passagens) identificará muitas das verdades que aprendemos em nossa fé - A QUASE TOTALIDADE DESTAS DÉIAS E CONCEITOS JÁ ERA ENSINADA (com os limites da linguagem da época) PELO PRÓPRIO PROFETA JOSEPH SMITH.

É disto que se trata o "Pensamento-Livre" na Maçonaria - e não, como temem os ignorantes, de um "Pensamento Livre-de-Religião", ou contrário a esta... Há ainda um tremendo ranço "cartesiano-positivista" entre os "cientistas sérios" - isto se deve aos excessos do "main-stream" do pensamento cristão ocidental durante a Idade Média, uma "época de ouro" para a Apostasia, quando a Igreja de Roma participava do Estado em todos os países cristãos. Quando a ciência "se libertou" de tal Igreja e seus dogmas, embebedou-se tanto em sua liberdade que declarou a "morte de Deus" - e os cientistas "se livraram" do conceito de divindade. Mas isto já é uma história muito, mas MUITO ANTIGA, e os que ainda pensam "cientificamente" nestes moldes nada mais são do que sarcófagos de uma mentalidade inevitavelmente lógica, porém, errada, como a própria CIÊNCIA agora o demonstra. Não nos esqueçamos da mentalidade comprometida dos carreiristas, daqueles que devem mantar as aparências ou impressionar outros para poderem renovar suas verbas e sua "credibilidade" no meio Acadêmico - não são livres, de fato, para investigar a VERDADE. Lidemos com os FATOS, então!

Os verdadeiros crentes não temem o estudo aberto e sincero, a investigação incansável da verdade, pois sabem que DEUS É A VERDADE, e tudo o que podemos estudar nada mais é do que a criação divina. A CIÊNCIA nada mais é do que o esforço constante para estabelecer MODELOS QUE REPRESENTEM UMA REALIDADE OBJETIVA, EXTERIOR E INDEPENDENTE DAS OPINIÕES INDIVIDUAIS. Ora, quento mais se estuda, mais dados se obtém, e torna-se necessário reformular o MODELO CIENTÍFICO, o qual, constantemente desatualizado, já não é suficiente para descrever satisfatoriamente REALIDADE. Somente temem os estudos aqueles cujá Fé é pífia, instável, e que poderia desaparecer se houvesse a menor flutuação de sua compreensão do mundo ou do modo como a Fé individual enxerga esse mundo. Os fortes na Fé sabem que eventualmente poderão ter que adaptar ou re-adaptar alguns aspectos de seu pensamento, mas que isto, em absoluto, irá contra a essência de sua Fé - a qual não só continuará inabalada, mas se fortalecerá - "Pouco estudo nos afasta de Deus, muito estudo nos aproxima d'Ele novamente". (Louis Pasteur, uma das citações favoritas de Einstein).

Desta forma, alegoricamente, pretendo demonstrar o benefício mútuo (e não a oposição essencial) entre RELIGIÃO e CIÊNCIA, assim como o benefício mútuo entre MORMONISMO e MAÇONARIA.

Eduardo Bernini.'., 30 de dezembro de 2008.



A PONTE ENTRE A CIÊNCIA E A RELIGIÃO

Transcrição completa da entrevista concedida pelo físico Amit Goswami ao programa "Roda Viva" da TV Cultura.

O Roda Viva entrevista o físico nuclear indiano AMIT GOSWAMI. Considerado um importante cientista da atualidade ele tem instigado os meios acadêmicos com sua busca de uma ponte entre a ciência e a espiritualidade. Amit Goswami vive nos Estados Unidos. É PHD em física quântica e professor titular de física da Universidade de Oregon. Há mais de quinze anos está envolvido em estudos que buscam construir o ponto de união entre a física quântica e a espiritualidade. Já foi rotulado de místico, pela comunidade científica, e acabou acalmando os críticos através de várias publicações técnicas a respeito de suas idéias. Em seu livro O UNIVERSO AUTOCONSCIENTE - publicado no Brasil - ele procura demonstrar que o Universo é matematicamente inconsistente sem a existência de um conjunto superior - no caso, DEUS. E diz que, se esses estudos se desenvolverem, logo no início do terceiro milênio Deus será objeto de ciência e não mais de religião.

A bancada de entrevistadores será formada por Mário Sérgio Cortella, filósofo e doutor em educação, professor do Depto. Teologia e ciências da religião da PUC SP; Cláudio Renato Weber Abramo, jornalista e mestre em filosofia da ciência; Pierre Weil, educador e reitor da Universidade Holística Internacional de Brasília; Rose Marie Muraro, escritora e editora; Leonor Lia Beatriz Diskin Pawlowicz, jornalista e Pres. da Assoc. Palas Athena; Joel Sales Giglio, psiquiatra, ex-chefe do Depto. de Psic. Médica e psiquiatria da Unicamp, analista junguiano da Assoc. Junguiana do Brasil e membro da International Association for Analitical Psychology; Carlos Ziller Camenietzki, físico, Doutor em filosofia e pesquisador do Museu de Astronomia do Min. da Ciência e Tecnologia.

Heródoto Barbeiro: Dr. Amit Goswami, Boa Noite. Inicialmente eu gostaria que o senhor dissesse aos telespectadores da TV Cultura, que ao longo do século XX os cientistas estiveram ligados muito mais ao materialismo do que à religiosidade. A impressão que eu tenho é que nessa virada para o século XXI, essas coisas estão mudando. O senhor poderia nos explicar o porquê dessa aproximação entre a ciência e a espiritualidade?

Amit Goswami: Com prazer. Esta mudança da ciência, de uma visão materialista para uma visão espiritualista, foi quase totalmente devida ao advento da Física Quântica. Ao mesmo tempo, houve algumas mudanças em Psicologia transpessoal, em Biologia evolucionista, e em medicina. Mas acho que é correto dizer que a revolução que a Física Quântica causou na Física, na virada do século, seria baseada nessas transições contínuas, não apenas movimento contínuo, mas também descontínuo. Não localidade. Não apenas transferência local de informações, mas transferência não-local de informações. E, finalmente, o conceito de causalidade descendente. É um conceito interessante, pois os físicos sempre acreditaram que a causalidade subia a partir da base: partículas elementares, átomos, para moléculas, para células, para cérebro. E o cérebro é tudo. O cérebro nos dá consciência, inteligência, todas essas coisas. Mas descobrimos, na Física Quântica que a consciência é necessária, o observador é necessário. É o observador que converte as ondas de possibilidades, os objetos quânticos, em eventos e objetos reais. Essa idéia de que a consciência é um produto do cérebro nos cria paradoxos. Em vez disso, cresceu a idéia de que é a consciência que também é causal. Assim, cresceu a idéia da causalidade descendente. Eu diria que a revolução que a Física Quântica trouxe, com três conceitos revolucionários, movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e, finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários. Então, se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa causalidade descendente como algo que está acima da visão materialista do mundo, então Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência, interage com o mundo: através da escolha das possibilidades quânticas.

Rose Marie Muraro: O que mais me espanta na Física é o problema da medição quântica de Heisenberg, que você, realmente, acha que deve ter um observador olhando e que modifica a realidade, por exemplo, transforma a onda em partícula. Eu gostaria de saber... isso aí houve uma grande briga de Einstein com Niels Bohr. Eu gostaria de saber, em escala cósmica, onde não há observadores, se há um observador supremo, na sua opinião, e se ele cria matéria ou como se faz esse fenômeno?

Amit Goswami: Essa é a questão fundamental, Rose Marie, porque... qual é o papel do observador? É a pergunta que abre a integração entre Física e espiritualidade. Na Física Quântica, por sete décadas, tentou-se negar o observador. De alguma forma, achava-se que a Física deveria ser objetiva. Se dessem um papel ao observador, a Física não seria mais objetiva. A famosa disputa entre Böhr e Einstein, a que se refere essa disputa, basicamente, sempre terminava com Böhr ganhando a discussão, mostrando que não há fenômeno no mundo a menos que ele seja registrado. Böhr não usou a consciência... mas atualmente, vem crescendo o consenso, muito lentamente, de que a Física Quântica não está completa, a menos que concordemos que nenhum fenômeno é um fenômeno, a menos que seja registrado por um observador, na consciência de um observador. E isso se tornou a base da nova ciência. É a ciência que, aos poucos, mas com certeza, vem integrando os conceitos científicos e espirituais.

Cláudio Abramo: Em sua fala inicial, o senhor mencionou, deu como fato, que teria crescido a idéia de que haveria uma causalidade no sentido inverso àqueles do tradicional que se considera, e daí saltou para a afirmação de que isso abriria a porta para a entrada de Deus. A minha pergunta se divide em duas. Em primeiro lugar, essa idéia cresceu aonde? Quem, além do senhor, defende esse tipo de visão de mundo? E... dois, o porque Deus entrou aí nessa equação?

Amit Goswami: Na Física Quântica há um movimento contínuo. A Física Quântica prevê isso. Não há dúvida que a Matemática Quântica é muito capaz, muito competente, e ela prevê o desenvolvimento de ondas de possibilidades, a matéria é retratada como ondas de possibilidades. O modo como elas se espalham é totalmente previsto pela Física Quântica. Mas agora temos probabilidades de possibilidades. Nenhum evento real é previsto pela Física Quântica. Para conectar a Física Quântica a observações reais, embora não vejamos possibilidades e probabilidades, na verdade vemos realidades. Esse é o problema das medições quânticas. E luta-se com esse problema há décadas, como eu já disse, mas nenhuma solução materialista, uma solução mantida dentro da primazia da matéria foi bem sucedida. Por outro lado, se considerarmos que é a consciência que escolhe entre as possibilidades, teremos uma resposta, mas a resposta não é matemática. Teremos de sair da matemática. Não existe Matemática Quântica para este evento de mudança de possibilidades em eventos reais, que os físicos chamam de ‘colapso da onda de possibilidade em realidade’. É essa descontinuidade do colapso que nos obriga a buscar uma resposta fora da Física. O que é interessante é que se postularmos que a consciência, o observador, causa o colapso da onda de possibilidades, escolhendo a realidade que está ocorrendo, podemos fazer a pergunta: qual é a natureza da consciência? E encontraremos uma resposta surpreendente. Essa consciência que escolhe e causa o colapso da onda de possibilidades não é a consciência individual do observador. Em vez disso, é uma consciência cósmica. O observador não causa o colapso em um estado de consciência normal, mas em um estado de consciência anormal, no qual ele é parte da consciência cósmica. Isso é muito interessante. O que é a consciência cósmica diante do conceito de Deus, do qual os místicos e teólogos falam?

Mário Cortella: Uma questão para o doutor Amit que é a seguinte: o senhor é originado de uma cultura, que é a cultura da Índia, onde o hinduísmo, como religião, tem uma profusão de deuses ou de divindades, ou de deidades. Alguns chegam a falar em 300 milhões de deidades dentro da religião hindu. De outro lado, seu pai foi um guru brâmane, o senhor tem um irmão que é filósofo. Esta mescla de situações induziu no senhor uma compreensão em relação a um ponto de chegada, na religião, partindo da Física, ou o senhor já partiu da religião e, por isso, chegou até a Física e supõe que a Física Quântica é uma das formas de praticar teologia?

Amit Goswami: Obrigado pela pergunta, porque costumam me perguntar se minha formação como indiano hindu afeta o modo como pratico a Física. Na verdade, fui materialista por um bom tempo. Fui físico materialista dos 14 anos de idade até cerca de 45 anos. O materialismo foi importante para mim. Eu trabalhei com ele, filosofei nele, cresci nele. Eu obtive sucesso em Física dentro da Física materialista. Mas quando comecei a trabalhar no problema da medição quântica, eu realmente tentei resolvê-lo dentro do materialismo. Enquanto todos nós trabalhávamos, falei com muitos físicos que trabalhavam no problema (este é o problema mais estudado da Física, um dos mais estudados). E todos tentávamos resolver este paradoxo: se a consciência é um fenômeno cerebral, obedece à Física Quântica, como a observação consciente de um evento pode causar o colapso da onda de possibilidades levando ao evento real que estamos vendo? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar um colapso na possibilidade. Assim, eu tive de abandonar esse pensamento materialista. Embora fosse interessante, em minha vida pessoal eu sentia necessidade de mudar. Alguns consideraram uma transição de meia-idade, e os dois problemas, crescimento na vida pessoal e o problema da medição quântica, se confundiram, e eu comecei a ver a consciência não apenas como um problema físico, mas também como um problema pessoal. O que é que deixa alguém feliz? Qual é a natureza da consciência, da qual as pessoas falam quando se pensa além do materialismo? Então, comecei a meditar e a me aproximar de alguns místicos, e isso ajudou. E um dia, quando falava com um místico, e ele me dava a tradicional visão mística do mundo, que eu já ouvira muitas vezes antes, mas, de algum modo, essa conversa causou uma nova impressão em mim. Eu pude ver, eu realmente vi além do pensamento, tive a percepção de que a consciência é a base do ser, e essa percepção soluciona o problema da medição quântica. Não só isso: pode ser usada como base para a ciência. Normalmente, os cientistas presumem que a ciência deve ser objetiva, etc., mas eu vi, naquele momento, que a ciência deve ser objetiva até um certo ponto. Eu chamo de objetividade fraca, mas isso pode ser alcançado nessa nova Metafísica. Consciência é a base de todos os seres. Então, para mim, foi o contrário, eu fui da Física para a espiritualidade, sob o aspecto da Física. Porque minha formação espiritual, embora em retrospecto, eu possa dizer que foi saudável, deve ter sido, como Freud diria, no subconsciente. Mas conscientemente foi o oposto. Eu vim de uma questão muito inquietante, de como resolver um problema físico, um problema do mundo, pois esse é o problema mais importante do século XX. E a partir disso, esse salto conceitual, esse salto quântico perceptivo me fez reconhecer que o modo como espiritualistas vêem a consciência é o modo certo de ver a consciência. E esse modo de ver a consciência resolve o problema da medição quântica. Ele nos dá a base para uma nova ciência.

Carlos Ziller: Eu gostaria de fazer uma pergunta, dando um passo mais atrás no sentido da própria Física clássica. Porque nós sabemos, hoje em dia, que os fundadores da Física clássica, Newton, Descartes e outros grandes cientistas do século XVII, para eles, para os projetos científicos que propunham, Deus era uma parte constitutiva inseparável do mundo que eles imaginavam, seja como sendo quem garantia a eficácia, eficiência, o funcionamento das leis do mundo, seja como alguém que operava os próprios fenômenos naturais. Bom, isso foi sendo afastado, expulso do mundo da ciência ao longo do século XVIII, século XIX, ou século XX, talvez, até os anos 50 tenha sido o ápice dessa questão, os cientistas, os físicos, sobretudo, não gostavam totalmente nada de falar sobre esse assunto. Deus era um problema. Talvez o seu estudo e a sua reflexão esteja tentando recolocar no seu próprio lugar, pelo menos foi assim que eu interpretei, algumas idéias do próprio século XVII, dos fundadores da ciência moderna. Eu gostaria de saber se essa aproximação do Deus do Newton, o que garantia que as leis naturais funcionavam, se esse Deus tem algum paralelo com a consciência, supra-consciência que o senhor propõe como sendo o princípio a partir do qual os fenômenos do mundo, a realidade estaria constituída?

Amit Goswami: É uma pergunta muito boa. Os conceitos da Física clássica, no início, não separavam Deus, como disse, mas então, aos poucos, descobriu-se que Deus não era necessário. Depois que Deus estabeleceu o movimento do mundo, ele passou a ser guardião de seu jardim, e isso é o que a maioria dos físicos clássicos pode fazer. Mas na Física Quântica, há o problema da medição. Como as possibilidades tornam-se eventos reais, temos espaço para uma consciência, e ela deve ser uma consciência cósmica. Há uma semelhança com o modo como Deus é retratado, pelo menos na subespiritualidade tradicional, não na mente popular. A mente popular considera Deus um imperador, um super-humano sentado no céu. Essa imagem de Deus não é científica, e espero que esteja claro que não estamos falando em Deus dessa forma, mas Deus nessa consciência mais cósmica, nessa forma mais estrutural. Esse tipo de Deus está retornando porque, se você se recorda, o debate entre teólogos e cientistas sempre foi: Deus é o guardião ou Deus intervém? Teólogos afirmam que Deus intervém nos seres biológicos. E então surgiu Darwin. Foi um grande golpe nos teólogos, porque antes, apesar de Newton, os teólogos podiam citar o exemplo da Biologia, cujo propósito é muito óbvio, pelo menos, óbvio para a maioria. Mas a teoria de Darwin foi um golpe porque se dizia que a evolução ocorria... mas ela era natural? Darwin disse que ela era natural. Oportunidade e necessidade. Não há necessidade de Deus na evolução e não há necessidade de Deus na biologia. Então, no século XX, surgiu o behaviorismo e a idéia de que temos livre-arbítrio subjetivo. Essa idéia também foi superada, porque experimentos mostraram que somos muito condicionados, não há livre-arbítrio. Contra tudo isso, vejam só, a Física Quântica também cresceu ao mesmo tempo que o behaviorismo, e a Física Quântica tem uma coisa peculiar: o princípio da incerteza. O mundo não está determinado como imaginamos. Deus não é o guardião. O princípio da incerteza levou à onda de possibilidades, depois o colapso da onda de possibilidades para a introdução da idéia do colapso da consciência. Paradoxalmente, fomos criados contra essa idéia, mas nos anos 90, eu, Henry Stab, Fred Allan Wolf, Nick Herbert, todos mostramos que esse paradoxo pode ser resolvido. Não há paradoxo se presumirmos que a consciência que causa o colapso da onda de possibilidades em eventos reais é uma consciência cósmica. E o evento do colapso em si nos dá a separação matéria-objeto do mundo. Assim, não só resolvemos o problema da medição quântica como também demos uma nova resposta de como a consciência de um torna-se várias. Como ela se divide em matérias e objetos, para poder ver a si mesma. E essa idéia de que o mundo é um jogo da consciência, um jogo de Deus, que é uma idéia muito mística, voltou à tona. Então, podemos voltar à biologia. Deus intervém na biologia? Deus intervém na vida das pessoas? Essas perguntas continuam tendo respostas muito positivas. Vi, em um jornal sobre Biologia evolucionista, que há muitos furos conhecidos na teoria darwiniana. Esses furos são chamados sinais de pontuação. A teoria da evolução de Darwin explica alguns estágios homeostáticos da evolução, ou seja, como as espécies adaptam-se a mudanças ambientais. Mas não explica como uma espécie torna-se outra. Essa especiação, mudança de uma espécie em outra, é uma nova mudança na evolução, não está na teoria de Darwin. Experimentalmente, isso é demonstrado em lacunas de fósseis. Não temos uma continuidade de fósseis mostrando como um réptil tornou-se um pássaro. A idéia é que sejam sinais de pontuação, estágios muito rápidos de evolução. Eu sugiro que isto seja um salto quântico, um salto quântico na evolução. Nesse salto quântico, a consciência interveio, não de um modo subjetivo, de um modo caprichoso, mas de um modo muito objetivo... muito objetivo, e essas idéias objetivas ficam claras com o trabalho de Rupert Sheldrake e outros, o modo como isso pode ser objetivo. Mas, sem dúvida alguma, há uma intervenção da causalidade descendente. Não se pode explicar a Biologia evolucionista só com a causalidade ascendente. Essa é a coisa mais interessante, a partir do pensamento original dos físicos de que Deus deve ser o guardião, pois tudo pode ser explicado e tudo é determinado, que não precisamos de Deus. Agora, estamos fechando o círculo, e vemos que não só precisamos de Deus: há movimentos descontínuos no mundo para os quais não existe explicação matemática ou lógica. Ainda assim, é totalmente objetivo, não é arbitrário. Deus age de forma objetiva, bem definida. A consciência cósmica não é subjetiva, não é a consciência individual que afeta o mundo. Isso ocorre de forma cósmica, podemos discutir objetivamente. A ciência detém seu poder, sua objetividade e, ainda assim, temos agora a descontinuidade, temos a interconectividade e podemos falar sobre vários assuntos dos quais os místicos tradicionalmente falam.

Pierre Weil: Durante essa discussão eu me coloquei como educador do ponto de vista do telespectador, e estou um pouco com medo de que alguns já desligaram o aparelho diante do alto nível científico do debate, que é necessário e indispensável. Eu queria ressaltar a importância da sua presença aqui em termos mais simples. Para o telespectador... tem telespectadores que acreditam em Deus, acreditam em espiritualidade e tem outros que não acreditam em Deus, não acreditam... são os materialistas versus os espiritualistas. Entre os dois têm os que não sabem ou os que nem se interessem para isto. Nestas três categorias, a sua presença aqui tem uma importância muito grande. Ela tem uma importância porque nesse século que passou, nós estivemos assistindo a três grandes movimentos: o primeiro movimento, em que muitos espiritualistas, muitas pessoas que acreditavam em Deus, abalados pelas “provas”, pelas evidências da ciência, largaram a religião e só acreditaram na matéria. E nisso foram até muitos sacerdotes de várias religiões. Largaram a batina, largaram a sua fé e se transformaram em protagonistas do materialismo. Estamos assistindo, atualmente, a um movimento contrário. Eu tenho, por exemplo, dois amigos meus. Um, Matthew, grande biólogo francês, largou a biologia e hoje ele é monge budista tibetano. O outro era astrofísico, colega seu, largou a astrofísica e hoje ele é rabino. Então estamos assistindo a um movimento contrário. A sua presença aqui apresenta uma terceira saída, e que me parece a mais conveniente e a mais razoável, a mais holística, que é a minha também. A sua, como Física Quântica, fez com que, vindo do materialismo, não caísse no extremo do espiritualismo, mas integrou os dois. Eu fiz isso também como psicólogo, através da psicologia transpessoal... o senhor através da Física Quântica, eu, através da Psicologia Transpessoal... e nos encontramos muito bem e nos abraçamos o tempo todo. A minha pergunta é uma pergunta pessoal: poderia contar para os telespectadores, em termos mais simples, o que fez com que Amit Goswami ficasse no meio do caminho e fizesse um encontro dentro dele, da razão da Física, da razão materialista, e do outro lado, da Intuição? Falou nos seus amigos místicos, mas pela minha experiência eu sei que a segurança pela qual eu falo, não é apenas racional, ela é baseada numa experiência chamada interior, chamada subjetiva, chame como quiser, de luz, e de saber mais ou menos como que é esse mundo espiritual. Qual é a sua experiência que fez com que unisse, na sua pessoa, o lado masculino, racional, e o lado feminino, intuitivo, sentimental? O que aconteceu com a sua pessoa? Eu acho que isso nos vai reconciliar com os telespectadores.

Amit Goswami: Sim, obrigado. Esta é a questão fundamental. Às vezes, eu digo que todos nós, todas as pessoas, espectadores, cientistas, o orador, todos aqui, todos nós temos dois lados. Um é semelhante a Newton, que quer entender tudo em termos de objetividades, ciências e matemática, e o outro é William Blake, que é místico e ouve diretamente, intuitivamente, e desenvolve seu retrato do mundo baseado nessa percepção intuitiva. O que ocorre nessa integração, o que ocorreu por um tempo, mesmo antes de essa integração começar, é que começamos a entender a natureza da criatividade. E a falsa idéia de que cientistas só trabalham com idéias racionais e matemáticas, está, aos poucos, caindo. Einstein disse isso muito claramente: “Não descobri a Teoria da Relatividade apenas com o pensamento racional”. As pessoas não levam a sério tais declarações. Mas Einstein falou sério. Ele sabia que a criatividade era importante. Agora, quase cem anos de pesquisas sobre criatividade estão mostrando que os cientistas também dependem da intuição. Eles também dependem de visões criativas para desenvolver sua ciência. Nem tudo é racional, matemático; nem tudo é pensamento racional. Você perguntou sobre minha experiência pessoal. Eu já compartilhei a experiência fundamental pessoal que tive quando troquei... nem devo dizer que troquei, eu tive uma percepção. Não posso descrevê-la em termos de espaço-tempo. Eu estava fora do espaço-tempo, experimentando diretamente a consciência como a base do ser. É esse tipo de experiência que dá a base para ficarmos convencidos, para termos certeza de que a realidade é algo mais do que o espaço-tempo no mundo em movimento faz parecer. Este é o escopo fundamental para o ponto de encontro dos cientistas e espiritualistas. Porque os espiritualistas ouviram esse chamado, essa intuição, muito antes. Os cientistas também a ouviram. Mas por eles sempre expressarem suas percepções em termos de lógica, em termos de razão, isso ocorre mais tarde. Eles esquecem a origem de seu trabalho, a origem de sua percepção. Já para os espiritualistas, a percepção leva à transformação do modo de vida. Assim, eles nunca esquecem que foi a intuição que trouxe a felicidade, foi ela que os fez quem são. Essa é a diferença. Cientistas usam a intuição para desenvolver sistemas que estão fora deles, o que chamo de criatividade externa. E isso torna-se uma camuflagem dos verdadeiros mecanismos do mundo para eles. Enquanto espiritualistas mantêm-se com a percepção, mudam suas vidas, e incidentalmente, mudam o mundo externo. Mas eles sabem que aquela percepção que tiveram é a coisa fundamental que gere o mundo. Para eles, a consciência é cósmica, isto é algo determinado. Para os cientistas, a mesma descoberta é possível, mas eles ignoram o chamado e prestam mais atenção ao que ocorre no cenário externo. Acho que, se todos nós compartilharmos isso, o mundo poderá mudar. Agradeço pela pergunta. Estou disposto a compartilhar: escrevi um livro sobre criatividade, no qual conto minhas histórias pessoais. Em todos os meus livros conto minhas histórias pessoais. É importante compartilharmos nossas histórias pessoais, e acabar com o mito de que os cientistas são apenas pensadores racionais. Eles também têm percepções que vão muito além do pensamento racional.

Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, o senhor falou muito em Deus durante a primeira parte deste programa, e aqui no ocidente, quando se fala em Deus, se imagina que exista o seu contraponto. E aqui no ocidente se dá uma série de nomes a ele. Eu gostaria de saber como é que o senhor explica essa... se o senhor concebe a existência desse contraponto, dessas outras forças que não são necessariamente Deus.

Amit Goswami: Essa questão de Deus contra o Mal é interessante. Segundo a visão da Física Quântica, existem as forças da criatividade e as forças do condicionamento. Não falamos muito sobre isso, mas eu defendo a idéia que a Física Quântica nos dá, de que é a consciência cósmica que escolhe entre as possibilidades para trazer à realidade o evento real que ocorre. A questão é: então temos de entrar nesse estado incomum de consciência, no qual somos cósmicos, no qual escolhemos e, então... como entrar nessa consciência individual na qual somos uma pessoa? Na qual temos personalidade e caráter? Ao trabalharmos com a matemática disso, descobrimos que essa condição ocorre porque todas as nossas experiências aparecem após serem refletidas no espelho da nossa memória, muitas vezes. É essa memória que causa o condicionamento. Uma propensão a agir do modo como já agi antes. Uma propensão para responder a estímulos do modo como já respondi antes. Todas as pessoas sabem disso. Elas passam a manhã no cabeleireiro e o marido volta para casa e diz: “O que há para o almoço?”, sem notar o novo penteado da esposa, o que é muito irritante, tenho certeza. Mas esse condicionamento é o que nos torna indivíduos. Então, a questão é que, na Física Quântica, vemos claramente o papel da consciência cósmica, que eu chamo de “ser quântico”, no qual há criatividade, há forças criativas. E então perdemos essa criatividade, ficamos condicionados. E o condicionamento nos faz parecidos com máquinas. Assim, o mal maior que a nova ciência nos traz é o condicionamento. Pois é ele que nos faz esquecer a divindade que temos, o poder criativo que temos, a força criativa que realmente representa o que buscamos quando invocamos Deus. Mas isso também está incompleto. Essa questão pode ser estudada mais a fundo e há um escopo maior, trazendo idéias como emoções negativas e positivas. Assim, teremos uma exposição maior do Bem contra o Mal. Mas, de fato, a consciência cósmica inclui tudo. Esse é o conceito esotérico, não tanto exotérico, mas esotérico, por trás de todas as religiões, de que há apenas Deus, e que o Bem e o Mal são uma divisão, uma necessidade da criação, mas não é fundamental, ou seja, o diabo não é igual a Deus; o diabo é uma criação subseqüente. É útil pensarmos em termos de Bem e Mal mas, às vezes, é preciso transcender isso, é preciso perceber que Deus é tudo. Esse é o cenário que a Física Quântica defende.

Joel Giglio: Doutor Amit, eu sou psiquiatra, analista Junguiano, formado pela Associação Junguiana do Brasil, e tenho muitas perguntas a fazer ao senhor. Mas em vista do tempo e dos objetivos desse programa, vou me centrar numa delas. Eu pensei muito, quando li seu livro, em questões que ainda são incógnitas à nossa prática psicoterápica. A questão do ‘insight’... O ‘insight’ nós não sabemos, em psicoterapia, quando ele vai acontecer, como vai acontecer. Ele simplesmente aparece e quase que do nada, embora a gente intua que o ‘insight’ vá aparecer. A questão da criatividade... a questão da sincronicidade... mas eu gostaria de fazer uma questão sobre os arquétipos. O senhor menciona no seu livro, idéias de arquétipos de objetos mentais. Cita Platão e cita Jung, que é o criador da psicologia analítica, setor da psicologia onde eu me situo. A questão que tem me perturbado muito é: os arquétipos evoluem, embora eles estejam fora do eixo espaço-tempo? Alguns autores dizem que está havendo uma evolução dos arquétipos. Quem fala isso, por exemplo, é Sheldrake, que o senhor mencionou há pouco e que não é psicólogo, é biólogo, mas que tem uma visão diferente dentro do campo da biologia. Como é que a teoria da Física Quântica explicaria, supondo que os arquétipos evoluem, a evolução dos próprios pensamentos arquetípicos, por exemplo, a evolução do arquétipo de Deus, se é que ele está evoluindo ou não. Essa questão... e muitos outros arquétipos, nós supomos que estejam evoluindo sem anularem os arquétipos anteriores.

Amit Goswami: Obrigado pela pergunta. Sou um grande seguidor de Jung. Acho que Jung foi dos precursores da integração que está ocorrendo agora. Nos meus primeiros textos, eu citava muito a afirmação de Jung de que, um dia, a Física Nuclear e a Psicologia se unirão. E acho que Jung ficaria satisfeito com esta conversa e, em geral, com a integração da Física e da Psicologia transpessoal que vemos hoje. Isto posto, acredito no conceito de arquétipo de Jung, e acho que o modo como Jung o apresentou, e Platão o apresentou, de que são aspectos eternos da consciência, contextos eternos da consciência... a consciência tem um corpo contextual no qual os arquétipos são definidos e, então, eles governam o movimento do nosso pensamento. Acho que é um conceito muito poderoso. Mas, ao mesmo tempo, na Física Quântica, existe a idéia de que todos os corpos de consciência, tudo o que pertence à consciência, inconsciência, são possibilidades. E por causa disso, por tudo ser possibilidade, surge a questão: alguém pode ir além de arquétipos fixos e considerar arquétipos evolucionistas? Não se pode descartar o que Rupert tenta dizer. Houve uma idéia semelhante, de Brian Josephson, um físico que publicou um trabalho na Physical Review Letters, revista de grande prestígio, dizendo que as leis da Física podem estar evoluindo. Da mesma forma, outras pessoas, cientistas muito sérios, sugeriram que, talvez, forças gravitacionais mudem com o tempo. Essa idéia de arquétipos fixos é uma idéia muito importante. Eu a apóio totalmente. Mas também vejo que na Física Quântica há espaço para a evolução dos arquétipos. Não devemos descartar totalmente idéias que dizem que arquétipos evoluíram. Ainda seremos capazes de determinar isso experimentalmente. Obrigado pela pergunta.

Lia Diskin: O senhor manifesta certo interesse pelas questões éticas, grande parte do final de sua obra se dedica a essa questão. O senhor nos disse que há necessidade da participação da ambigüidade para dar garantias de criatividade no campo ético. Entretanto, no mesmo contexto, nos fala imediatamente das linhas e instruções éticas numa obra monumental da tradição indiana que se chama “Bhagavad Gitâ”. E a “Bhagavad Gitâ” se inicia pelo pressuposto da instrução do mestre para um discípulo, de que ele deve agir, de que ele deve entrar no combate, que ele deve assumir sua parte de ação, porque pertence a uma casta, a uma tradição de guerreiros, em que há ação da própria. Como fica o livre-arbítrio, como fica a ambigüidade como necessidade da criatividade dentro de um contexto de que existe um pressuposto, obviamente não-ambíguo e não-escolhível, que não pôde escolher? O que fazer... mas se está cominado a fazer, está cominado a agir? Como será isso, Professor?

Amit Goswami: Acho que essa também é uma pergunta muito difícil, muito sutil. Realmente, se considerarmos a ética compulsória, não parece haver escolha. Mas a ética não é tão definida: é muito ambígua. Lembro de uma história que o grande filósofo Jean-Paul Sartre contava. Suponha que você vá em uma expedição de natação, ou melhor, de barco, e o barco afunde. Você está com um amigo, você sabe nadar, mas ele não. Mas você não é muito forte. Se tentar salvá-lo, os dois podem morrer. Você tem uma boa chance de se salvar, mas ama seu amigo e seu dever ético com ele está muito claro. O que fazer? Casos assim mostram claramente que há ambigüidade mesmo em decisões éticas, em decisões morais. Na Física Quântica, é muito claro que devemos esperar, e esperar pela intuição, ver se há um salto quântico, uma resposta criativa como você a chama, se uma resposta criativa irá surgir. E é essa resposta criativa que é a resposta correta para solucionar essa ambigüidade em questões éticas. Quando a moralidade ou a ética são apresentadas como um conjunto de regras, e as pessoas seguem essas regras, elas perdem essa parte ambígua e, por causa disso, as regras perdem o sentido. Passa a ser um conjunto de regras inútil, sem vida. Mas, se considerarmos a ética com vida, e reconhecermos que temos um papel a desempenhar em todas as situações éticas, temos um papel a desempenhar em termos de irmos para dentro de nós, como as pessoas criativas fazem, combatendo isso, combatendo a ambigüidade. Então, o salto quântico da percepção virá e vai-nos permitir tomar a ação correta. É nisso que a Física Quântica está nos ajudando, é nessa conclusão que ela está nos ajudando. E acho que Sartre também buscava essa resposta porque a ética fixa é uma coisa impossível de se seguir.

Cláudio Abramo: Eu vou, infelizmente, ter que me estender ligeiramente na minha pergunta. Ela é precedida de uma declaração... Vou fazer uma interpretação do que foi declarado até agora, que eu acho que deve ser útil para os telespectadores. Não estou fazendo isso para me expor, mas para esclarecer o que me parece ser algumas questões importantes nesse debate para o telespectador. O entrevistado faz menção a fenômenos inexplicados, a fenômenos desviantes, entre diversas disciplinas. Começa com a Física, passa pela Biologia, faz referência a problemas seculares com respeito à consciência humana, ao livre-arbítrio, ao modo como raciocinamos, ao modo como chegamos a conclusões, menciona casos como, por exemplo, Einstein declarando, como tantos outros cientistas, que não sabe muito bem como chegou a uma conclusão. Poincaré, antes dele, havia escrito muito sobre isso... Poincaré era uma matemático, o último grande matemático universalista francês... ele morreu no começo desse século (XX). Bom, esse tipo de anedota é completamente comum na ciência. Não há nenhuma originalidade nisso. Esse gênero de anedota, repito, fenômenos inexplicados que são característicos da ciência... a ciência quanto mais sabe, menos sabe... quanto mais a ciência sabe, quanto mais fenômenos são explicados, mais avenidas de desconhecimento se abrem. Um cientista diz “não sei” o tempo todo. Um não-cientista explica tudo, porque sempre tem uma resposta do tipo “todo abrangente” como é esta resposta. O fato de se ter isso, para os telespectadores entenderem, o fato de se formular uma pseudo-explicação a respeito de como o universo funciona não dá a essa explicação, foros de verdade. Simplesmente declarar coisas não confere verdade ao que se declara. Agora, no que o senhor declara existe uma característica que eu acho bastante preocupante, ou pelo menos intrigante, vinda de alguém conhecido aqui como Físico, como o senhor declarou... o senhor foi... o senhor foi Físico. O senhor diz, em primeiro lugar, que aquilo que seria essa intervenção de uma consciência cósmica, não é matematizável, quer dizer, isto não é introdutível dentro da teoria física na forma como a teoria física aceita as suas idéias. Não existe outra maneira de introduzir na Física idéias senão a matemática. Não existe... não é possível, não é Física... se é não-matematizável, não é Física. Muito bem, então esta idéia de consciência cósmica não é Física, quer dizer, certamente nenhum Físico aceitará isso. Em segundo lugar, ela também, já que se está falando de alguma coisa que existe no mundo, que é uma consciência cósmica que se reflete na consciência das pessoas e faz as pessoas fazerem saltos quânticos... o senhor não vai usar esse termo, mas saltos quânticos em direção à solução de problemas... onde é que estão as evidências empíricas disso? Onde estão as experiências que levam a esse tipo de conclusão? Porque ou a gente pode ter conhecimento do mundo que seja muito estruturado, como no caso da Física, ou conhecimento do mundo pouco estruturado. Não existe uma teoria, não existe um conjunto de idéias muito organizado por trás, mas sabemos empiricamente que são verdadeiras, ou parecem verdadeiras. Onde é que estão as evidências empíricas e onde está o raciocínio, eu diria, desculpe a palavra, científico, que o leva a declarar que existiria uma consciência cósmica que estaria governando tudo e resolvendo todos os problemas aqui, da Biologia, da Psicologia?... O senhor afirma que estas suas idéias explicariam o problema da biologia evolucionista dos ‘gaps’ na criação de espécies, por exemplo. O senhor não acha ambicioso demais e, repito, onde é que estão as evidências empíricas disso?

Amit Goswami: Boa pergunta. Pergunta muito boa. Precisamos sempre fazer esta pergunta: onde está a evidência? Falarei da evidência mais tarde. Antes, responderei à pergunta: a Física é matemática? Ela deve ser totalmente matemática? Essa é uma crença que cresceu gradualmente na Física, por causa do sucesso da matemática para expressar a Física. Há duas coisas que devemos lembrar. Primeiro: não há motivo para a Física ser matemática. Às vezes os filósofos levantam essa questão. Nancy Cartwright escreveu um livro: Why do laws of Physics lie. Ela estava argumentando que não há provas dentro da filosofia materialista de que a Matemática deve governar as leis da Física. De onde vem a Matemática? Pessoas como Richard Feynman, grande físico, Eugene Bigner, todos estudaram a questão. E não há resposta dentro da filosofia materialista. Platão tem uma resposta: a matemática molda a Física porque surgiu antes da Física, faz parte do mundo arquetípico que discutimos. Assim, o idealismo de Platão é fundamental para entender o papel da Matemática na Física, em primeiro lugar. A Física em si precisa de algo além da matéria, ou seja, da matemática e de arquétipos para ser uma ciência consistente. É preciso se lembrar disso. O segundo aspecto da questão é o mais importante. Na Física Quântica, procuramos insistentemente uma forma matemática de encerrar a Mecânica Quântica. Uma forma matemática para entender a medição quântica. Não fomos capazes. Niels Bohr demonstrou para Erwin Schrödinger, há muito tempo, quando a Mecânica Quântica estava sendo desenvolvida. Schrödinger achou que tinha obtido a continuidade e Bohr provou o contrário e o convenceu disso. E Schrödinger disse: “Se eu soubesse que essa descontinuidade, saltos quânticos, iriam permanecer, eu nunca teria descoberto a Mecânica Quântica”. Bohr disse: “Estamos felizes que tenha descoberto”. Essas descontinuidades vão continuar existindo, não há explicação matemática, e por não haver explicação matemática, portanto, há espaço para o livre-arbítrio. O livre-arbítrio, Deus, consciência, colapso, tudo isso entrou para a Física porque atingimos o conhecimento, a sabedoria, de que existe o princípio da incerteza, existem a probabilidade e possibilidades. E por existirem probabilidade e possibilidades, deve haver um agente que causa o colapso das possibilidades em eventos reais. E esse agente não pode ser matemático porque, se for, não poderá haver livre-arbítrio: seria determinista. Mas não é determinista. O princípio da incerteza é fundamental. Assim, nós chegamos à conclusão, após décadas de lutas nós conseguimos...

Cláudio Abramo: Quem é “nós”?

Amit Goswami: “Nós” quer dizer que há um consenso entre cientistas...

Cláudio Abramo: Há um consenso a respeito de suas idéias?

Amit Goswami: Não a respeito de minhas idéias. Esqueça as minhas idéias. Mas há um consenso de que não há solução matemática para o problema da medição quântica. Nisso, chegamos a um consenso. E por não haver uma solução matemática para isso, e por haver uma solução consistente em termos de consciência causando colapso de possibilidades quânticas em realidade, podemos falar sobre essas idéias publicamente. Quanto à segunda pergunta: Há evidência empírica? Acontece que os dois aspectos fundamentais da nova física, a consciência causa o colapso da possibilidade em realidade, e o segundo, que essa consciência é uma consciência cósmica, os dois aspectos foram confirmados por dados empíricos. Antes, darei os dados para o segundo, porque é o mais simples para o espectador. O primeiro é um pouco difícil. Talvez possamos incluir os dois. O primeiro experimento é muito importante porque já foi aplicado. Em 1993 e 1994, o neurofisiologista mexicano Jacobo Greenberg Silberman, ele e seus colaboradores fizeram um experimento, no qual havia dois observadores meditando por 20 minutos, com o propósito de terem comunicação direta. Comunicação direta no estilo de não-localidade. Sinais não-locais ocorrendo entre eles, e ainda assim eles teriam comunicação. Certo, eles meditaram juntos. Pediu-se que mantivessem o estado meditativo durante o resto do experimento. Mas então, um deles é levado para outro recinto. Eles ficam em câmaras de Faraday, onde não é possível a comunicação eletromagnética. Os cérebros deles são monitorados. Uma das pessoas vê uma série de ‘flashes’ brilhantes, o cérebro dele responde com atividade elétrica, obtém-se o potencial de resposta muito claro, picos muito claros, fases muito claras. O cérebro da outra pessoa mostra atividade, a partir da qual obtém-se um potencial de transferência que é muito semelhante em força e 70% idêntico em fases ao potencial de resposta da primeira pessoa. O mais interessante é que, se você pegar duas outras pessoas, duas pessoas que não meditaram juntas, ou pessoas que não tinham a intenção de se comunicar, para elas, não há potencial de transferência. Mas para pessoas que meditam juntas, invariavelmente, muitas vezes, um em cada quatro casos, obtemos o fenômeno de potencial de transferência. E Peter Fenwick, na Inglaterra, há dois anos, confirmou isso, repetindo o experimento. Assim, temos evidência empírica. Se tivéssemos tempo, e você tivesse paciência, eu poderia lhe dar inúmeros dados. Outro dado que é muito interessante: considere o caso de geradores de números aleatórios. Eles são realmente aparelhos quânticos, pois eles pegam eventos radiativos, que são aleatórios, e os convertem em seqüências de números, seqüências de zeros e uns. Em uma longa cadeia, deve haver número igual de zeros e uns. É o que se espera da seqüência aleatória. Helmut Schmidt, um físico que pesquisa parapsicologia, tenta há quase 20 anos, fazer com que médiuns influenciem os geradores de números aleatórios para gerarem seqüências não-aleatórias, mais zeros que uns. E ao longo dos anos ele conseguiu boas evidências de que, até certo ponto, os médiuns conseguem fazer isso. Um resultado com um grande desvio. Isso ainda não tem nada a ver com Física Quântica, mas recentemente, em um trabalho publicado em 1993, Schmidt retratou uma modificação revolucionária desses dados. O que ele fez, recentemente, é que o gerador de números aleatórios, os dados do gerador de números, a seqüência, é armazenada num computador, ela é impressa, mas ninguém olha. Os dados impressos são fechados num envelope e enviados para um observador independente. Três meses depois, o observador, sem abrir o envelope, escolhe o que quer ver, mais zeros ou mais uns. Tudo segue um critério. Então ele liga para o pesquisador, o pesquisador diz ao médium para olhar os dados, e pede a ele para mudar os resultados, influenciá-los, se puder. E o médium tenta produzir mais zeros, se esse for o desejo do observador. E então, o observador abre o envelope e verifica se o médium conseguiu. E a incrível conclusão é (é um resultado sério, não é fácil contestá-lo) que o médium, em 4 de cada 5 tentativas, consegue mudar os números aleatórios gerados pelo aparelho, mesmo após três meses. Este mito de que o pensamento causa o colapso de si mesmo, que o colapso é objetivo, sem que o observador consciente as veja, é apenas um mito. Nada acontece, tudo é uma possibilidade até que o observador consciente veja. Numa experiência controlada, as pessoas intervieram. As pessoas viram, sem contar a ninguém, viram os dados, a impressão. Nesses casos, o médium não influenciou os dados. Está claro que a consciência exerce um efeito, exatamente como Bohr suspeitava, como Newman suspeitava. Agora estamos fazendo teorias mais completas e experimentos mais completos baseados nessas teorias. Henry Stab colaborou com todas essas idéias que apresentei, consciência causando o colapso de funções quânticas em eventos reais. Ele participou do experimento com Schmidt. Então, estamos vendo uma mudança revolucionária na Física, não menos revolucionária do que a acontecida com Copérnico. Claro que haverá reações, como a que apresentou, e temos de ser muito pacientes, calmos, e trabalharmos juntos para superar essas tendências contrárias. Mas temos a certeza de que existe algo que todos devemos olhar. Isso é revolucionário, é novo e pode mudar, como já discutimos, as dificuldades com valores que a sociedade vem enfrentando. Não vamos nos preocupar em como pode ser, mas vamos olhar os dados, olhar a teoria e perguntar: pode ser? Se pode, que oportunidade fantástica temos para integrar todos esses movimentos díspares de consciência que nos separaram por tanto tempo.

Heródoto Barbeiro: Ele é autor também do livro “O universo autoconsciente - Como a consciência cria o mundo material”. Dr. Goswami, dentro dessas explicações que o senhor nos deu até agora, como fica a questão da reencarnação e da preservação dessa consciência dos seres humanos?

Amit Goswami: A questão da reencarnação, provavelmente, é a pergunta mais radical que pode ser feita. E é impressionante que a Física Quântica nos permita dar uma resposta afirmativa. Eu mesmo fiquei tão surpreso quanto qualquer um, com isto... No início, quando me perguntavam isso, eu me recusava a discutir. Mas então, eu acordei de um sonho, e, basicamente, o sonho me dizia... eu ouvi isso no sonho: “O Livro Tibetano dos Mortos está certo e seu trabalho é provar”. Após acordar desse sonho, eu passei a encarar reencarnação com seriedade. Basicamente, o problema com a reencarnação é este: o corpo físico morre, e o que resta? Se a consciência é a base do ser, vem a idéia de que o que resta é a consciência. É a primeira pista. A segunda pista é que tudo é possibilidade, no modo quântico de ver as coisas. Então, não é irrelevante dizer que as possibilidades podem viver. Algumas possibilidades morrem com o corpo material e o cérebro, mas pode haver outras possibilidades, outras possibilidades que se modificam ao longo da nossa vida, e essas modificações das probabilidades das possibilidades podem formar uma confluência que possa viver mais tarde na vida de outra pessoa. É essa idéia que pude desenvolver de forma mais completa, num livro que será lançado no ano que vem, e fico feliz em dizer que podemos lidar com essa questão. A vantagem de se fazerem essas perguntas é que podemos ver imediatamente a utilidade das novas ciências que virão. Porque são essas coisas que preocupam as pessoas. As pessoas são fundamentalmente incomodadas por perguntas como “o que acontecerá quando eu morrer?”. E se a nova Física puder responder essas perguntas, a despeito da importância da Psicologia transpessoal, e da Psicologia Junguiana, em que a nova ciência ajuda, e também da medicina alternativa, que nem discutimos ainda, acho que tocaremos o coração das pessoas quando pudermos dizer: “Finalmente, a Ciência pode ajudar a entender essa pergunta”. Até agora, apenas o padre, o teólogo pode dar qualquer resposta para a pessoa. E se pudermos dizer a ela: “Faz sentido fazer essa pergunta, e você pode fazer algo para ajudar você com o que acontecerá após a morte”. Não seria um progresso maravilhoso na ciência?

Joel Giglio: Professor Amit, eu vou fazer uma pergunta baseado no trabalho de um ex-orientando de tese de doutoramento que eu orientei na Universidade de Campinas, e que fez a primeira tese, pelo menos na Unicamp, e talvez em qualquer universidade estadual ou federal do Brasil, sobre parapsicologia. Ele fez uma tese sobre clarividência e eu não vou, naturalmente, falar da metodologia do trabalho que seria bastante extensa, mas resumir pelo menos os resultados principais. Várias pessoas, vários sujeitos tentavam adivinhar as cartas de um baralho de símbolos geométricos, baralho de Zener muito usado em pesquisa e parapsicologia, e tentava adivinhar as cartas de um baralho Tarô, que é baseado em imagens arquetípicas, o Rei, a Rainha, etc. Nos resultados que foram feitos seguindo uma metodologia tradicional, estatística, as pessoas acertaram, no baralho de Zener, um pouquinho acima do que era esperado ao acaso e 10% acima no baralho de Tarô, comparando com o de Zener. A explicação dada pelo meu orientando foi dentro da teoria da Psicologia Analítica, em relação aos arquétipos emergentes que, de uma certa forma, estariam mobilizados mais no baralho de Tarô do que simplesmente no baralho de símbolos geométricos. Mas essa explicação, embora nos satisfaça um pouco, ainda deixa muito a desejar. Eu perguntaria se o senhor teria alguma explicação a mais baseada na Teoria Quântica sobre essa maior adivinhação das cartas do baralho do Tarô, que são símbolos arquetípicos em relação ao baralho comum de Zener, que são cinco símbolos geométricos, quadrado, círculo, etc.?

Amit Goswami: Sim. Obrigado pela pergunta. Na verdade, somente no Brasil alguém pensaria em fazer um experimento tão brilhante. Tenho visitado o Brasil nos últimos 5 anos e o futuro parece promissor. Eu fico entusiasmado com a mente do brasileiro. Qual é a diferença entre o experimento original de adivinhação de cartas e as cartas de Tarô? A idéia que proponho, acho que você pensa da mesma forma, é que quando o objeto que usamos na telepatia é significativo, ele é um objeto melhor. Os cientistas, os parapsicólogos anteriores preocupavam-se demais com a objetividade e ignoravam esse aspecto. Agora, nos novos experimentos parapsicológicos, espero usarmos cada vez mais objetos significativos na transferência telepática. E você tem razão, a explicação completa tem de usar a palavra “telepatia”, tem de usar a transferência não-local de informações, neste caso, transferência não-local de informações significativas, arquetípicas. E esse é o motivo para os melhores resultados. Mas a não-localidade, a não-localidade quântica, tem de ser evocada para se ter uma explicação completa do que ocorreu. Obrigado.

Mario Cortella: Doutor Amit, eu juntei algumas questões nisso que eu não vou tratar delas como perguntas, porque eu acho que na sua obra, pelo menos no que eu pude ler, há um aprofundamento disso e uma leitura mais detalhada ofereceria mais questões. Por exemplo, no campo da psicanálise essa idéia de que o universo é quando é percebido e até interferido, será que não seria uma postura um pouco ego-narcísica da nossa parte, um pouco antropocêntrica em relação ao próprio universo que dificulta a idéia de um cosmo, invertendo Dostoievsky. Dostoievsky disse que se Deus não existe, tudo é permitido. Nessa compreensão, parece que se Deus existe, aí é que tudo é permitido, porque existe aí uma probabilidade que pode ser interferida. E uma outra questão, que eu acho que está na sua obra mas acho que vale aprofundamento, é o ateísmo metodológico, sendo que foi tão caro para a ciência para poder buscar explicações, mas ele não é mais necessário. Mais aí a questão de fundo: eu tenho lido, não sei se é verdade, que a Física Quântica mostra que hoje o tempo é uma ilusão. Alguns têm dito que não se fala mais em universo, mas em multiverso, porque haveria vários universos paralelos. Isso traria um problema: a possibilidade de viajar no tempo. A maior explicação que achei até hoje contra a viagem no tempo, foi do Físico inglês, Stephen Hawking, que usou um argumento lógico. Ele disse: “É impossível viajar no tempo porque se um dia for possível isso, os homens do futuro já teriam voltado”. Mas a Física Quântica ao falar em universos paralelos levanta a possibilidade de se ter o tempo como uma mera ilusão humana. Isso me coloca a seguinte pergunta aí para o senhor: será que nós chegaremos, com a Física Quântica, a voltar à origem do cosmos e, aí sim, encontrar o princípio explicativo?

Amit Goswami: Bem, suas duas colocações são muito boas, e a pergunta é extremamente fascinante. A primeira coisa que quero dizer é que ‘não dizemos que tudo é possível’ apenas por termos incluído aí a consciência em nossas teorias, porque ainda estamos concordando totalmente com a Física Quântica que a causalidade ascendente molda a forma das possibilidades, a partir da qual a consciência escolhe. Tanto a causalidade descendente, quanto a ascendente têm papel fundamental na nova Física, na nova Ciência. Essa é uma das virtudes que temos. A nova Ciência absorve a velha Ciência nos limites do princípio da correspondência, no limite de que poderíamos falar apenas em termos de probabilidades para um grande número de coisas e eventos. A velha Ciência não desaparece. Não poderia. É solidamente baseada em dados experimentais. A nova Ciência expande a velha Ciência em arenas com as quais a velha Ciência não pode lidar. Como eventos singulares de criação, criatividade. Esse é o primeiro ponto. Sobre voltar no tempo, há experimentos quânticos. O mais famoso é o experimento de Le Choice, mas é muito longo para explicar, e muito complicado para os espectadores realmente apreciarem. Embora, se alguém estiver interessado nele, há livros sobre ele. Leiam, por favor, é fascinante. Há algo acontecendo. Essa idéia de voltar no tempo é real na Física Quântica. Podemos ser afetados por coisas no futuro, assim como somos afetados por coisas no passado. Na Física Quântica, o tempo é não-linear. Isto posto, claro que experimentos recentes são tão impressionantes, tão surpreendentes, que muitos físicos convencionais, conservadores, procuram formas de viajar no tempo. Mas acho que o consenso é que a viagem no tempo envolve muito mais do que esta observação da Mecânica Quântica. Não podemos mais descartá-la, mas ela envolve muito mais pois ainda temos sérios problemas de como trazer os efeitos quânticos aos macrocorpos. Pois os efeitos quânticos são muito destacados apenas em objetos microscópicos, e não tão destacados em macro-objetos. A situação da medição é uma exceção. Mas normalmente descobrimos apenas raios ‘laser’, supercondutores, poucas coisas, poucos macro-objetos em que os efeitos quânticos persistem. Então temos de resolver esse problema de como macrocorpos podem ser transportados pelo tempo, e isso levará um tempo. Se a consciência voltar a essa equação, e ela precisa voltar, em algum ponto, então, outra dimensão de pensamento se abrirá e isso pode nos dar novas respostas, novas visões sobre isso. Mas é muito prematuro falar sobre isso, acho.

Rose Marie: Eu sou muito interessada em história da tecnologia, porque eu acho que através da tecnologia é que os sistemas econômicos se desenvolvem, que cresce uma dominação de potências hegemônicas. Isso vai muito na linha da pergunta do Cláudio Abramo. Eu sei que o senhor está trabalhando na construção do primeiro computador quântico. Eu quero perguntar uma coisa: o computador quântico dá saltos quânticos, ele cria? Qual a diferença dele do computador determinístico?

Amit Goswami: Essa é uma pergunta muito interessante. O que é um computador quântico? Um computador quântico em vez de usar um algoritmo específico, usa um algoritmo ambíguo. No computador quântico é usada a superposição de possibilidades e, dessa forma, espera-se que seja muito mais rápido que o computador convencional. Desde que o computador quântico opere apenas nesse nível, eu não espero que ele seja uma novidade tão grande, a não ser o fato de ele ser mais rápido. É isso que interessa aos cientistas da computação. Mas eu tenho um interesse diferente nesse computador. Se o computador for construído, por ter um processador quântico, por processar superpondo possibilidades...

Rose Marie: É tão realista.

Amit Goswami: Isso mesmo. Assim como o ser humano faz. O cérebro humano, de forma semelhante, processa de forma quântica as possibilidades, em vez de trabalhar diretamente, de maneira algorítmica, sem ambigüidade. Então, alguém pode fazer um computador que tenha todos os outros aspectos da medição quântica? A situação da medição quântica envolve um mecanismo que chamo de hierarquia embaraçada. É um pouco difícil de entender, mas um exemplo é a frase: “Eu sou mentiroso”. Se pensar nela, verá que a relação hierárquica entre sujeito e predicado é recíproca. “Eu” qualifica mentiroso, e vice-versa. Um qualifica o outro. É o que chamo de hierarquia embaraçada. A medição quântica no cérebro é assim. A questão intrigante para mim é que: suponha que no futuro encontremos um computador com hierarquia embaraçada. O interessante é que a hierarquia embaraçada dá margem à auto-referência. Então, este computador quântico terá auto-referência? A consciência cooperará na criação de um aparelho feito por humanos, que não seguiu uma evolução, mas desenvolvido pela inteligência humana? A consciência cooperará? A consciência cósmica cooperará e o tornará um ser consciente? Eu não sei a resposta. Mas esta será uma verificação fundamental, uma das mais fantásticas, das idéias que discutimos hoje. Acho que essa pesquisa deve ser encorajada. Obrigado pela pergunta.

Lia Diskin: Tentando fazer uma síntese dentro das idéias da biologia, dentro das idéias da psicologia e, logicamente, de toda a Física que o senhor coloca, o que hoje sabemos é que apenas 2% de nosso cérebro utiliza vias neuro-cerebrais para entrada e saída de informação. E é a partir disso, que nós construímos o que chamamos “os objetos ideais e universais” que constituem a ciência. 98% restante pertence a um universo interno, nebuloso, no qual existe a fantasia, a ilusão, logicamente a irracionalidade e também a probabilidade. Até que ponto podemos dizer que é possível um verdadeiro diálogo com essa disparidade de porcentagens? Até que ponto podemos dizer que é possível uma cientificação das idéias, de Deus, ou das idéias internas, humanas, divinizadas, como queira chamá-las?

Amit Goswami: Em outras palavras, deixe-me ver se entendi a pergunta, há muitas coisas que são fantasias e há muitas coisas que envolvem Deus. É possível transformar esses aspectos fantasiosos em científicos? É uma pergunta interessante. Claro, na criatividade, transformamos fantasias, transformamos algumas fantasias em algo científico. Porque algumas delas são fantasias criativas. Em outras palavras, a imaginação, a parte mental de nossas vidas, a parte interna de nossa vida, é fundamental no que fazemos no mundo externo. Na nova Ciência, por estarmos igualmente envolvidos com o mundo externo e o interno, pelo fato de a subjetividade ter voltado à ciência, estamos validando o conceito de que, talvez, devamos levar algumas de nossas fantasias a sério. Porque a idéia contrária também pode ser positiva, ou seja, de que tudo é uma fantasia. Fantasia da mente, fantasia da consciência. Porque a consciência é a base do ser, e o que pensávamos ser material e real, e o que pensávamos ser fantasia e irreal, esta distinção não é muito clara, agora. São todas possibilidades da consciência. Portanto, é a consciência que as valida, que escolhe entre elas, que lhes dá substancialidade. Então, qual delas será substancial depende totalmente da escolha, do contexto no qual a consciência as vê. Isso vai revolucionar a sociedade, como você antecipou com sua pergunta. Em outras palavras, vamos levar nosso mundo interno muito mais a sério. Eu costumo dizer às pessoas que, se elas estudarem seus sonhos, o preconceito que costumamos ter é de que o sonho não é contínuo, portanto, de que adianta estudá-los? Há evidências de que os sonhos são contínuos, mas é preciso olhá-los sob o ponto de vista significativo. Alguns ficariam felizes com essa descoberta científica, de que os sonhos dão um relatório sobre a parte significativa das nossas vidas. Então, há outros aspectos da vida com os quais a ciência materialista não pode lidar e com os quais podemos lidar agora por colocar a consciência de volta, por exemplo, o pensamento. E, quando fazemos isso, nossa vida interna adquire uma enorme importância. Sim, a vida interna lida com o pensamento, a beleza, os arquétipos, de uma forma diferente que a vida externa, materialista, pode. E, focalizando na vida interna, não só podemos nos transformar, essa é a parte mística, mas também podemos ter enormes visões sobre o que criar, como criar, sobre nossas artes, sobre nossa música, até sobre a ciência.

Pierre Weil: Eu queria primeiro felicitar esse programa, Roda Viva, pelas iniciativas que está tomando. Eu quero dizer que é a primeira vez que eu vejo na televisão, problemas tratados no nível que merecem, na altitude que merecem, problemas como a parapsicologia, a psicologia transpessoal. Isso é feito graças a uma mudança de paradigma. E eu queria realçar de novo para o público telespectador que o que estamos tratando aqui tem uma influência muito grande sobre a destruição da vida no planeta e a grande crise de violência que está assolando atualmente o mundo, não é só o Brasil. Eu queria, já que estamos no fim do programa, deixar a oportunidade a Amit Goswami, que nós convidamos na nossa Universidade da Paz em Brasília, justamente porque ele representa um novo paradigma, como que o antigo paradigma é responsável pela violência atual do mundo, antiga visão que está responsável pela destruição da vida no planeta, e como o novo paradigma pode nos ajudar a nos tirar dessa crise, além de medidas policiais e de mudança de lei que são necessárias, mas são absolutamente insuficientes?

Amit Goswami: Obrigado. Acho muito importante dizer que, sem reconhecer a consciência e sem reconhecer o valor da nossa vida interna, sem reconhecer o valor da transformação, nunca mudaremos a violência na sociedade. Então, é muito importante ver que apenas pensando em não-violência, apenas falando dela, não deixaremos a violência. É preciso passar por todo o processo criativo. A nova Ciência, o novo paradigma, é extremamente importante porque sempre enfatiza a criatividade. Na velha Ciência, o determinismo e behaviorismo, essa idéia de que o condicionamento prevalece, nos cegou tanto quanto à transformação, nos cegou tanto que desistimos. Basicamente, os valores não eram necessários. Steve Weinberg disse que não há significado no universo, não há valores se o consenso é o julgamento dos cientistas materialistas, e isso ocorre dentro da sociedade, e o behaviorismo diz: “Não podemos fazer nada. Somos seres comportamentais, somos condicionados”. E a nova Ciência diz: “Não. Também há forças criativas dentro de nós. Basta aprender a agir a partir desse estado de consciência não-ordinário no qual você tem escolhas”. E o meu novo lema, em vez do cartesiano “eu penso, logo existo”, e pensamento é uma condição behaviorista, meu novo lema é: “escolho, logo existo”. Se é “escolho, logo existo”, posso escolher a não-violência. Mas tenho de aprender como escolher, e isso exige criatividade. Essa é, realmente... a nova confiança do novo paradigma: em vez de escolher a metade condicionada do mundo, vamos dividir o mundo em condicionamento e criatividade. Forças do Bem e do Mal, das quais falamos antes. Podemos ser muito otimistas. Se essa mudança para o novo paradigma vier logo, talvez possamos realmente lidar com a violência de uma forma realmente prática, em vez de apenas verbalmente, como fazemos.

Carlos Ziller: Quando eu estava fazendo a minha leitura dos seus trabalhos, percebi um sentimento que eu compartilho, de um incômodo profundo com relação a algumas conclusões que emergem de determinados meios científicos. Vou dar só um exemplo, acho que o telespectador vai se lembrar, certamente. Há algum tempo atrás apareceu um resultado de um laboratório do EUA que falava da descoberta do gene da homossexualidade. Mais recentemente falou-se no gene da obesidade, e há toda uma série de conclusões desse tipo que não deixam de produzir, nos homens de bom senso, uma certa surpresa, e, contudo, mesmo em homens que são materialistas e bem convencidos, que não aceitam, rejeitam esse determinismo radical que emerge de alguns ambientes científicos, sobretudo norte-americanos. Há um materialismo que convive muito bem com o livre-arbítrio. Há um realismo filosófico que convive muito bem, sem muito inconveniente, com paradoxos, com contradições. Isso não é, digamos, o todo, do que se poderia chamar de “atividade científica”. Por fim, eu gostaria de fazer uma pergunta, e é a questão mais importante que eu teria a colocar, que emerge também de uma sensação que eu tive ao ler “O universo auto-consciente”. Eu tive a sensação de retornar ao passado, aí sim uma viagem ao passado. Eu vi ali, arrumados, organizados de uma forma muito particular por você, idéias e proposições que eu já havia conhecido em leituras, por exemplo, da obra do cardeal Nicolau de Cusa, grande pensador do século XV, que propôs que o universo era resultado de uma contração de Deus, e essa contração, enfim, não é o caso aqui de eu explanar essa filosofia. Mas esse tipo de pensamento, produziu, interagiu com concepções científicas do século XVI, do século XVII, com concepções que propunham que a divindade organizasse, ou enfim, propunha uma visão bastante parecida com essa, um projeto científico bastante parecido com esse que você está propondo nesse seu livro. A humanidade passou por um processo muito longo, muito duro, para conseguir, digamos, não eliminar Deus da Ciência, mas pelo menos reduzir um pouco seu papel, esse processo foi longo e lento. Para concluir, como o senhor acredita poder convencer os cientistas desse seu projeto, depois de tanto esforço para conseguir criar uma noção de objetividade, de realidade, de realismo, com todos os exageros em alguns momentos, mas convencer esses homens depois de tanto esforço? O senhor imagina conseguir isso usando que gênero de recursos?

Amit Goswami: Eu acredito que as idéias se verificarão por si mesmas, serão confirmadas nos laboratórios e serão úteis. A ciência tem dois critérios fundamentais. Por isso Galileu é chamado de pai da ciência moderna, pois ele enunciou claramente esses dois critérios. Um é que a ciência deve ser verificável. Ela deve ser verificada experimentalmente. E a segunda idéia é que a ciência deve ser útil. No aspecto da verificação, já apresentei alguns experimentos a vocês, pois o tempo é curto, não entrarei em outros experimentos, mas digo que há um número enorme de experimentos sendo realizados, graças à Parapsicologia e interessados em Parapsicologia. Mas também em Biologia, e a Medicina é uma grande área de verificação experimental de algumas de nossas idéias. Mas a questão da utilidade é a mais importante. Deepak Chopra ficou famoso por um livro que escreveu, chamado Cura Quântica, lançado há 10 anos. Ele começou a revolucionar a Medicina, de certa forma, pois há um fenômeno chamado “efeito placebo” para o qual os cientistas não têm explicação. E esse trabalho, que é muito semelhante à minha forma de pensar, e eu tenho lido trabalhos citando a conexão entre as nossas idéias... Mas veja as implicações disso. Se, de fato, houver cura quântica, se houver Medicina mental, o efeito da mente sobre a cura, então as pessoas serão de fato ajudadas, não apenas no campo da Psicologia, mas no campo da verdadeira saúde física. A saúde física real, que importa para muito mais pessoas do que a saúde mental, ainda não estamos esclarecidos o bastante para levar a saúde mental tão a sério. Mas todos se preocupam com a saúde física, levam muito a sério. É a aplicação da nova Ciência a essas áreas, especialmente na área da saúde, que vai trazer a revolução de que Deus é importante, a consciência é importante, a criatividade é importante, observar o livre-arbítrio e responsabilidade é importante, que temos um paradigma científico que pode unir todas essas coisas, trazê-las para junto da velha ciência e ter formas objetivas de proceder e prever. Será uma ciência previsível, poderá ser verificada e também será útil. Isso é o que mudará a percepção do público. A percepção dos cientistas, também. Obrigado.

Heródoto Barbeiro: Doutor Goswami, muito obrigado por vir.

Amit Goswami: Muito obrigado. Foi um prazer estar aqui.

MAÇONARIA, PRECONCEITOS E INTOLERANCIAS - PARTE II

A igreja anglicana da Inglaterra teve muito de seus Bispos iniciados na Maçonaria, a exemplo do Arcebispo Fisher de Geoffrey. Porém, nas ultimas décadas as restrições contra Maçonaria aumentaram muito dentro do anglicanismo, talvez motivado pela aproximação que vem acontecendo de modo crescente entre o anglicanismo e o protestantismo tradicional. O Arcebispo atual de Canterbury, Dr. Rowan Williams, tem manifestado sua desaprovação à maçonaria, embora de forma diplomática evite causar ofensas aos maçons de dentro e fora da igreja inglesa. Em 2003 Dr. Rowan Williams se desculpou com os maçons britânicos depois de dizer que suas convicções eram incompatíveis com Cristianismo, mas, sabemos que ele limitou a ascensão de maçons a posições elevadas em sua diocese quando era o Bispo de Monmouth.
A Maçonaria regular não respondeu a estas afirmações, pois consideramos que assuntos envolvendo a religião de cada um, deverão ser tratados no âmbito religioso (enquanto os ideais de liberdade igualdade e fraternidade forem respeitados). Pois como todos sabem, e até mesmo já foi escrito aqui, Maçonaria não é religião e não se envolve nestas causas. Precisa ficar claro a todos, que a Maçonaria não pretende substituir nenhuma das religiões existentes no mundo, não somos seus concorrentes, pelo contrário, somos seus colaboradores, é de domínio publico a afirmativa que diz: “todo maçom deve ter a crença em um ser supremo”, sua consciência é quem definirá qual religião ele deverá seguir. Não existe na Maçonaria nenhum ensinamento teológico sobre uma “deidade maçônica”.
A intolerância por parte das religiões contra a Maçonaria se estende até mesmo àquelas que sofrem discriminação por parte de alguns seguidores do cristianismo, a exemplo do islamismo, lá também encontramos idéias e argumentos anti-maçons. Alguns anti-maçons muçulmanos tem afirmado que a Maçonaria surgiu para promover os interesses dos judeus ao redor do mundo, e que seu grande objetivo é reconstruir o Templo de Salomão em Jerusalém depois de destruir a Mesquita Al-Aqsa. Em função disto muitos países islâmicos não permitem o estabelecimento de Lojas maçônicas dentro de suas jurisdições. Porém, em países como a Turquia, Malásia, Marrocos, Líbano, Iraque e Egito temos lentamente conseguido estabelecer potencias maçônicas.
Acompanhando esta onda de descriminação preconceituosa, infelizmente não posso deixar de fora A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (os mórmons), doutrina esta da qual sou seguidor incondicional desde março de 1990. Na verdade, eu não responsabilizo a doutrina por qualquer ato discriminatório manifestado por um ou outro seguidor das idéias de Jesus Cristo na atualidade. Nossos líderes na mais alta escala da hierarquia mórmon nada tem dito de forma oficial deste o ano de 1984 quando o Presidente Spencer W. Kimball, afirmou enfaticamente que nenhuma restrição existe por parte da Igreja quanto a maçonaria. Penso que depois disto nenhum outro líder tenha se manifestado sobre o assunto, por considerá-lo algo resolvido.
É importante observar que cada um dos seguimentos religiosos aqui citados tem suas próprias razões para repudiar a Maçonaria, mais é interessante observar também que suas razões não coincidem, de acordo com o dogma é a recusa... O que posso concluir é que a história da humanidade continua a se repetir em ciclos de intolerância e preconceitos, homens que se colocam acima do Grande Arquiteto do Universo para arbitrar sobre assuntos que não lhes dizem respeito. Como podem os divergentes estar certos nesta discordância quanto à maçonaria, se até mesmo na hora de discordarem da milenar fraternidade eles divergem?
Por um breve momento deixarei de lado os conflitos teológicos e ideológicos em que vivem mergulhados aqueles que se aprofundam na ignorância para fazer um breve relato de acontecimentos ocorridos no interior do templo de Salomão. Ao mesmo tempo tentarei explicar quem foi Hiram Abiff, este que para alguns ainda é um eniguima, enquanto que para nós maçons ele é parte da explicação de quem somos.
Dando continuidade a leitura estarei mostrando que vários líderes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons) tiveram uma intima relação de conhecimento sobre sua existência e passagem pelo mais famoso de todos os templos.
Antes precisa ficar claro que contrário ao que algumas pessoas têm afirmado, não existe nenhum conflito ideológico, religioso ou literário entre a Maçonaria e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Maçonaria por não ser uma religião e não tentar interferir nesta temática, em nada conflita com A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ou qualquer outro seguimento religioso, me sinto um cristão mórmon livre para continuar minha escalada maçônica.
Quando tomei a decisão de fazer esta compilação sobre a relação entre maçonaria e os “mórmons”, confesso que fiquei em dúvida, meu receio era que em algum momento viesse a ser interpretado como leviano ou passional. Tenho profunda e alicerçada fé nas doutrinas de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, sinto que minha fé completa-se com as normas e rituais da Maçonaria. Então pensei; dentro de meu contexto social, sou eu no momento a pessoa mais qualificada para fazer um relato imparcial sobre a relação existente entre as duas organizações, então é a isto que me proponho...




Cesóstre Guimarães de Oliveira


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MAÇONARIA, PRECONCEITOS E INTOLERANCIA - PARTE I

Ao longo das eras do tempo a Maçonaria tem acolhido homens de todas as convicções religiosas. Impondo como a maior de todas as exigências para se tornar um maçom, a crença na existência do Arquiteto Supremo e na imortalidade da alma. Esta crença nós adotamos como o sinal externo e visível de uma graça interior e espiritual. E é dentro desta construção moral interna que a Maçonaria trabalha para fazer tornar os homens bons em homens melhores, construindo dentro de cada Irmão da Arte um templo de virtudes e realizações éticas.
Infelizmente, nossos propósitos são questionados pelos desinformados. Eles não vêem que nós maçons somos homens voltados à religião, somos homens invariáveis que compreendemos em sua verdadeira essência os preceitos da fé e diariamente em nossas metas filantrópicas vamos além do descanso, entendemos que a filantropia tem pressa e não pode esperar. Trabalhamos dentro de suas igrejas e nas suas comunidades para a melhoria dos membros da raça humana. Na realidade, nós maçons ultrapassamos as barreiras do sectarismo, superamos a intolerância religiosa, abrimos mãos dos dogmas irracionais que limitam os homens afastando-os do Grande Arquiteto do Universo. Posso assim dizer: Atingimos o ápice almejado por todos aqueles que sonham com uma fraternidade onde a pessoa é mais valorizada que suas idéias. A nós não interessa qual sua ideologia religiosa, exigimos sim, a crença no Grande Criador, não questionamos sua ideologia político partidária, enquanto ela respeite o livre arbítrio, que é considerado um dom divino para todas as religiões. A constituição de Anderson (que são conjuntos de regras aceitas pela Maçonaria Universal Regular) é bem clara quando diz: "Um maçom é obrigado a obedecer à lei moral; e se ele bem entender da arte, jamais será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso".
Respeitamos todas as religiões, entendemos que o homem é livre para adorar ao Grande Arquiteto do Universo, na forma, quando e onde quiser. Aceitamos em nossos templos todos os livros sagrados conforme seja a religião do iniciado, não importa se este livro é a Bíblia, Livro de Mórmon, Talmude, Alcorão, ou qualquer outro dos Grandes Livros da Fé. Entendemos que o livre arbítrio é um dom concedido pelo Grande Arquiteto do Universo (Deus), e como tal deve ser respeitado. A Maçonaria sempre dará boas-vindas a todos os homens livres e de bons costumes, não importa se são eles cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, etc. Não estamos preocupados em saber a qual religião professa fé, a nós importa que verdadeiramente aspirem viver os padrões de respeito à liberdade, igualdade e fraternidade.
A Maçonaria é universal por extensão de seus iniciados. É inclusiva dos bons costumes dentro da sociedade. Ela é provedora de uma filosofia e uma Fraternidade onde os homens bons podem se encontrar em um mesmo nível. Ela une todos os homens em um laço místico de fraternidade sincera, amor mútuo, fé, trabalho, e estes estão em todos os lugares unidos como construtores que trabalham por paz e harmonia, tendo como metas honrar o Criador. Este é o objetivo da Maçonaria. Obviamente, estes objetivos só complementam, e em nenhum momento contradizem as convicções religiosas sãs.
Embora seja comum observar alguns líderes religiosos manifestarem publicamente sua objeção a maçonaria, proibindo ou desencorajando os membros de suas respectivas Igrejas de se associarem a ela, para surpresa de alguns, o seguimento cristão com uma história mais longa e publica de objeção à Maçonaria tem sido a Igreja Católica. As restrições apresentadas pelo catolicismo incluem alegações de que a Maçonaria ensina uma religião de deismo naturalista que segundo os teólogos do catolicismo, conflita com suas doutrinas. Vários pronunciamentos oriundos dos Papas tem sido emitidos contra Maçonaria. O primeiro Papa a se manifestar abertamente contra a ordem foi Clemente XII, com sua Bula Papal datada de 28 de abril de 1738, que foi seguido com um novo pronunciamento feito por pelo Papa Leão XIII, que se manifestou em 15 de outubro de 1890. Em 1917 o Código de Direito Canônico declarou explicitamente que a ligação de um católico com a Maçonaria seria motivo suficiente para excomunhão. O mesmo código tornou proibido aos católicos, à leitura de qualquer livro que defendesse a Maçonaria.
Em 1983, a igreja católica novamente se manifestou. Desta feita, ao contrário do anterior, a maçonaria não foi nomeada de forma explicita entre as sociedades secretas que a igreja condena. Ficou dito apenas que: "Uma pessoa que se une a uma associação que delineia contra a Igreja será castigada com uma penalidade justa, alguém que promova ou participe de forma pública em tal associação será castigado com interdição." Esta aparente mudança de pensamento em parte foi motivada pela presença de proeminentes Maçons dentro da liderança da Igreja Católica.
Porém, o assunto foi novamente abordado de forma preconceituosa pelo Cardeal Joseph Ratzinger (que posteriormente veio a se tornar o Papa Bento XVI), ele declarou que: O julgamento negativo da Igreja com respeito à associação maçônica continua inalterado, já que os princípios maçônicos (segundo ele) são considerados irreconciliáveis com a doutrina da igreja católica, e então a associação com eles permanece proibida. O católico que se filia a esta organização está em sério estado de pecado e não deverá receber a “Sagrada Comunhão”. Sendo assim, da perspectiva católica, ainda existe restrições aos seus fiéis que se juntam a Maçonaria. Por sua vez a Maçonaria nunca contestou a participação de maçons no catolicismo. A única fala pronunciada pela GLUI (Grande Loja Unida da Inglaterra) e ratificada pela maçonaria espalhada pelo mundo, nega às afirmações do catolicismo dizendo (e é verdade) "Maçonaria não é religião, nem tem pretensões de substituí-las". Em contraste com as alegações católicas que nos acusam de racionalismo e naturalismo, as objeções protestantes estão voltadas as acusações de misticismo, ocultismo, e satanismo.
O pesquisador maçom Albert Pike é citado freqüentemente por anti-maçons protestantes como uma autoridade maçônica nestes assuntos. Porém, Pike, embora indubitavelmente instruído, não era um porta-voz da Maçonaria, uma vez que ele era controverso até mesmo entre os Maçons. O que ele escreveu só representa sua opinião pessoal e, além disso, é uma opinião fundamentada nas atitudes e compreensões da Maçonaria Sulista dos E.U.A do século XIX. Na verdade suas idéias estão coadunadas com os pensamentos de sua própria Loja Principal. Ninguém nunca falou por toda a Maçonaria, somos homens livres e de bons costumes, e como tais agimos. A liberdade de expressão é parte de nosso patrimônio.


Cesóstre Guimarães de Oliveira


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MISTÉRIOS DA MAÇONARIA

Nossa simbologia, a vista dos curiosos, torna-se incompreensível. De forma esotérica buscam respostas, os leigos, porem não as encontram. Interpelam irmãos (Maçons) que na maioria das vezes se utilizam do silencio, norma quase sagrada de nossa Instituição. A partir disso é difundida a Maçonaria com seita satânica, intrusa Ordem que ataca as varias religiões, um Clube congregando homens a se ajudarem mutuamente. Tudo se fala, tudo se interpela e, na maioria das vezes, em tudo se falha quando esbarram na verdade Final.
Tentemos pois, irmãos, decifrar nos mesmo o que seria o nosso maior Mistério... Seria um mistério nos congregarmos e formar uma família universal? Poderia ser um mistério, nos igualarmos uns aos outros, independente, da casta social ou racial? Ou um mistério a nossa união em torno de um bem comum, não só para maçons, como também para profanos?
É um mistério nossa crença num ser Onipresente, Onisciente, Onipotente? É um mistério estendermos as mãos para os necessitados sem que ninguém visualize essa ação? Ou seria um mistério o despojar das vaidades com a busca incessante da Verdade?
Quantos mistérios, quantas interrogações... A Maçonaria, na essência, se reproduz por alegorias e símbolos. Na realidade terrena se apresenta fincada em ações e participações coletivas em prol da humanidade. Ela é justa com os justos, perfeita com os perfeitos, todavia não se descarta os ignorantes, os imperfeitos. Faz deles instrumentos para o seu desenvolvimento, estudando-os, auxiliando-os. Nossa confraria é uma luz !
O ponto máximo da Maçonaria é o esclarecimento. Várias tentativas são feitas pela Ordem, desde os tempos mais remotos, com a finalidade de introduzir na Terra e seres humanos, o sentimento de aprendizado, disciplina e pesquisa. Nossa Confraria foi uma semente, tornou-se uma árvore e agora, apresenta seus frutos a todos os seres do Universo. Fruto do saber, com sabor de verdade.
Qual seria então, na realidade, o nosso grande mistério? Estaria ele ligado às monumentais construções do passado? Poderia estar na língua dos filósofos do presente, e do passado? Estaría na força dos magos? Em páginas de livros? Não! O Grande Mistério Maçônico está na simplicidade que se configura a palavra amor. O amor e respeito a tudo e a todos. Não creio na existência de um mistério maior que o amor... Reconhecemos a Ciência, se nela estiver contido um trabalho salutar. Aceitamos o esoterismo desde que, baseado na verdade.
Reconhecemos todos os credos que tenham deus por princípio, meio e fim. Como uma Confraria pode se dirigir a tantos ideais e interesses, senão pela participação ativa junto à sociedade. Como uma Ordem, dita diabólica, procura no Universo o coração divino para o melhor entendimento das misérias humanas? Na realidade seria necessária a existência de algum mistério?
Não, pois não existe mistério algum, só o amor... E o que é o amor?




Douglas Garcia Neto

(Venerável Mestre )A.:R.:l.:S.: Madras, 3359

GOSP/GOB


Este texto foi extraído da Revista Universo Maçônico nº 03 (http://www.revistauniversomaconico.com.br/pagina/artigo.html)

MAÇONARIA E MORMONISMO


A primeira coisa a considerar quando falamos de Maçonaria é tirar a visão estereotipada e preconceituosa contra esta entidade. Ela é apenas uma fraternidade como a Rosacruz, o Rotary Club, Lyons e outras organizações filantrópicas (muitas delas derivadas da própria maçonaria).
1 - Joseph Smith era um maçom?
Sim! Durante um breve período de sua vida, de 1842-1844
2 - O que ele foi fazer na maçonaria?
Boa parte por influência de Hyrum e Heber C. Kimball, que já eram maçons de longa data, antes mesmo de se filiarem à Igreja. Inclusive Hyrum era um grão-mestre da região.
Depois das perseguições do Missouri, onde os santos foram expulsos de seus lares, perderam suas posses, tiveram suas prensas destruídas e seus líderes condenados à execução (que só não se tornou efeito devido à intervenção e recusa de Alexander Doniphan em executar os líderes da Igreja), Hyrum e Heber sugeriram a Joseph que a fraternidade maçônica poderia lhe dar um pouco de paz e proteção contra as contínuas perseguições governamentais.
Hyrum pediu autorização ao Grão-mestre do Illinois para estabelecer uma loja maçônica em Nauvoo, a permissão foi concedida. A loja maçônica foi instalada, Joseph reconheceu alguns elementos e reminiscências das ordenanças sacerdotais no ritual maçônico e aconselhou a todos participarem, inclusive as mulheres. O livre acesso da loja maçônica de Nauvoo irritou outros maçons que sempre consideram a Maçonaria mais exclusivista e discreta.
Quase todos os apóstolos de Joseph na época passaram pela Maçonaria, com exceção de Orson Pratt (irmão de Parley) que não quis.
3 - Foram os maçons ou pessoas ligadas a este grupo que o assassinaram em Carthage?
Não! Foram basicamente Missourianos instigados por outros líderes religiosos e políticos que o assassinaram. Poderia ter até maçons no meio, mas creio que quando Joseph lançou sua candidatura à presidência dos USA, isto foi um fator crucial para políticos, temerosos do carisma e apoio constante que Joseph recebia, se unirem aos Missourianos e outros líderes religiosos inimigos do Mormonismo para acabar de vez com Joseph antes que sua influência crescesse demais. Na verdade, um dos líderes do ataque e editor de um jornal com insufladas propagandas anti-mórmons procurou se filiar a Maçonaria depois do atentado na prisão de Carthage, a fim de buscar apoio entre os maçons do Illinois e se livrar de eventual condenação.
4 - Segundo o Livro de Mórmon Combinações Secretas e pessoas ou grupos que se identificam por sinais são servos de Satanás, como podemos explicar ao mundo o envolvimento de Joseph Smith com a maçonaria?
São servos de Satanás segundo o Livro de Mórmon os que usam de combinações secretas para angariar poder e privilégio pessoal.
“E quando o servo de Helamã se inteirou das intenções de Quiscúmen e de que seu objetivo era matar; e de que o objetivo dos que pertenciam ao seu bando era matar e roubar e obter poder (e eram estes seus planos secretos e suas combinações), o servo de Helamã disse a Quiscúmen: Vamos até a cadeira do juiz.”(Helamã 2:8)
“E toda nação que apoiar tais combinações secretas para obter poder e lucro, até que se espalhem pela nação, eis que será destruída; porque o Senhor não permitirá que o sangue de seus santos, que será derramado por eles, clame sempre a ele por vingança desde a terra, sem que os vingue”.
“Portanto, ó gentios, é sabedoria de Deus que estas coisas vos sejam mostradas, a fim de que, por meio delas, vos arrependais de vossos pecados e não permitais que vos dominem essas combinações assassinas, instituídas para a obtenção de poder e lucro—e a obra, sim, a obra de destruição vos sobrevenha; sim, a espada da justiça do Deus Eterno cairá sobre vós para vossa ruína e destruição, se permitirdes que estas coisas aconteçam.”(Éter 8:22 - 23)
“E aconteceu que surgiu uma rebelião entre o povo, devido àquela combinação secreta que fora instituída com o fito de adquirir poder e riquezas; e entre eles surgiu um homem poderoso em sua iniquidade e ele batalhou contra Moron e dominou a metade do reino; e conservou a metade do reino por muitos anos.”(Éter 11:15)
Vários exércitos em guerras usavam senhas códigos para identificar seus soldados. O uso de símbolos e ordenanças sagradas (não necessariamente secretas), era comum tanto no Judaísmo Sacerdotal como nos ritos de iniciação dos primitivos Cristãos. Os primeiros Cristãos se reconheciam nas catacumbas desenhando no chão cada um um semi-círculo, invertidos e unidos por uma das extremidades formando o desenho de um peixe, cujas letras iniciais em latim "ICTUOS = Iesus Cristus Teo UiOs Sotero" siginificavam "Jesus Cristo, Deus Filho Salvador". A Maçonaria é uma fraternidade que existe desde a época dos cavaleiros templários. A maioria do trabalho da maçonaria hoje é de ajudar em serviços sociais, há até uma máxima que diz, “para você ser maçom você precisa ter o desejo muito maior de servir do que ser servido” . O caráter exclusivista e discreto (não diria secreto) da Maçonaria gera muita especulação e ignorância a respeito por parte de quem não a conhece, por isso ouvimos falar de complô, organização secreta, etc.. Tive a oportunidade visitar a loja maçônica de Pelotas e conversar com o grão-mestre da região na época de minha Missão. Entre os maçons a crença básica na existência de Deus (independente de filiação religiosa) e a fidelidade conjugal são princípios básicos da fraternidade, um homem que trai sua esposa por exemplo, é sujeito à expulsão da comunidade.
5 - Existem líderes da Igreja hoje em dia envolvidos com a maçonaria?
Muito poucos, a maioria destes são porque já eram maçons antes de se converter ao Mormonismo. O tempo dedicado à fraternidade tiraria mais tempo de um líder da Igreja para se dedicar à Fraternidade e à Igreja, o que se tornaria bem puxado. Além do mais, o caráter exclusivo masculino da fraternidade em muitas reuniões, tiraria ainda mais tempo do marido ou líder em passar com sua esposa e filhos. É mais comum vermos membros sem cargos de liderança na Igreja envolvidos com a Maçonaria.
Obs.: Sobre este meu comentário acima gostaria de colocar aqui as palavras do irmão Clésio Hector Dufau, secretário do bispado da Ala Cristal, em Porto Alegre:

"É possível sim um membro da Igreja ter cargo juntamente com o seu trabalho na Maçonaria. Eu sou um exemplo, pois trabalho como secretário da Ala e desempenho uma função em Loja Maçônica.
Quanto à companhia da esposa e filhos, é dedicado o mesmo tempo e exigido este tempo tanto quanto na Igreja, pois existem atividades onde o maçom deve levar a família, e são atividades de confraternização. Claro que não tem o mesmo foco e objetivo como na Igreja, em relação ao evangelho, mas permite uma integração entre os membros, e acessível aos convidados (não maçons).
Podemos comparar as reuniões necessárias de liderança, onde é requerida a presença do Sacerdócio com as reuniões semanais em Loja. O tempo disponível é quase o mesmo. Se desejar, posso traçar outros paralelos entre a Igreja e a Maçonaria, e estou à disposição para esclarecer dúvidas, salvo melhor juízo.
Caro irmão, agradeço a oportunidade que me deste de conversar, mesmo por e-mail e poder emitir minha opinião. Que o Pai Celestial ( ou o G.'.'A.'.D.'.U.'.) o abençoe sempre e peço que mantenha este site disponível sempre que puder, pois se tornou para mim e outros que gostaram deste trabalho um ótima referência.
Até mais."

6 - A maçonaria também é o que podemos entender como os atuais ladrões de Gadiânton? Existem muitas outras organizações secretas espalhadas por toda a face da Terra.
Não a consideraria assim! Pode até existir ladrões de Gadianton na Maçonaria, no seu partido político, no Rotary Club, etc., mas as intenções dos ladrões de Gadianton ferem princípios básicos da Maçonaria, que é de servir a humanidade por um mundo melhor. Não sei se você sabe, mas a Independência do Brasil foi, em grande parte, realizada graças à influência dos maçons. José Bonifácio de Andrada e Silva, o nosso grande patriarca da Independência, geólogo e cientista, era o Grão Mestre da Ordem para todo o Brasil, ele não me parece em nada com um ladrão de Gadianton.
Por favor meu irmão me ajude a compreender melhor estas coisas pois tenho pesquisado muito e tenho apenas encontrado respostas de não membros e ou de organizações ou denominações antimórmon. Na verdade na Igreja não encontrei nada sobre o assunto!
7 – Por que existem semelhanças entre o ritual maçônico e o do templo SUD?
Para responder esta pergunta precisamos ter em mente a falácia lógica usada pelos críticos: Se A é semelhante a B, e B é mais antigo do que A, então A foi copiado de B ou B é fonte de A. Esta falácia ocorre ao ignorarmos C, mais antigo do que A e B e que pode ser a fonte tanto de A como para B. O texto abaixo do irmão Michael T. Griffin discorre bem sobre este aspecto. Só lembrando que muito da arquitetura do templo maçônico procura lembrar o antigo templo de Jerusalém. Há muito simbolismo na arquitetura e decoração de em uma loja maçônica que procuram lembrar Deus, as 12 tribos de Israel, a Trindade, os pilares Joaquim e Boaz, o avental da indumentária sacerdotal levita, etc. Devido à natureza sagrada da investidura, o leitor que não tiver passado pelo templo talvez tenha alguma dificuldade de entender alguns tópicos, mas o leitor que já recebeu sua investidura entenderá perfeitamente as analogias.
Maçonaria e o Templo SUD
Numerosos livros e panfletos antimórmons tem sido escritos documentando paralelos entre Maçonaria e o Templo Mórmon. Estes paralelos consistem de dois tipos de categorias em geral: similaridades entre o ritual Maçônico e as cerimônias templárias SUD (especialmente a cerimônia da investidura), e paralelos entre os símbolos Maçônicos e o simbolismo do templo Mórmon.
Em adição, antimórmons apontam para a nova versão da investidura templária introduzida a partir de 1990 como evidência contra a cerimônia porque ela não contêm alguns dos elementos Maçônicos e outros itens das versões anteriores. Eles insistem que se a investidura fosse inspirada nenhuma mudança poderia ser nelas feitas.
O que os paralelos Maçônicos e as mudanças na investidura provam? De acordo com os críticos, os paralelos provam que as cerimônias e o simbolismo do templo SUD são “ocultos e Satânicos”, e foram em sua maioria plagiadas a partir da Maçonaria, enquanto as mudanças supostamente mostram a investidura como sendo um produto feito pela mão do homem sujeita a opiniões e cortes da liderança Mórmon.
Críticos anti-SUD acreditam que sua opinião sobre os paralelos Maçônicos é fortalecida pelo fato que Joseph Smith e muitos outras antigas autoridades Mórmons tornaram-se Maçons durante o período de Nauvoo.
Tomando emprestado da Maçonaria
Eu estou perfeitamente inclinado a conceder que Joseph tomou alguma coisa emprestado da Maçonaria na preparação das ordenanças do templo. No entanto, eu não aceito a conclusão antimórmon de que esta tomada de empréstimo sumariamente invalide o templo e suas cerimônias. Logicamente e historicamente falando, o simbolismo templário e as ordenanças não estão automaticamente sem créditos porque Joseph empregou alguns elementos maçônicos para expressar os ritos sagrados e conceitos que o Senhor a ele revelou.
Há evidências de que o ritual Maçônico é derivado de antigas origens que contém remanescentes da verdadeira adoração templária. Esta evidência inclui semelhanças entre elementos do ritual Maçônico e certos ritos antigos de iniciação Cristã. Antimórmons evitam qualquer discussão nesta área. Críticos também tendenciosamente ignoram o fato de que Joseph Smith designou novos significados para virtualmente todos os elementos Maçônicos que ele utilizou e os colocou dentro de contextos centrados em Cristo, removidos para bem longe de suas colocações originais.
Ao fazer isto, Joseph Smith não estava sozinho. De uma maneira similar, os antigos Hebreus empregaram muitos textos e figuras religiosas pagãs, e designaram novos significados e contextos a eles. Além do mais, o tabernáculo Mosaico era muito parecido em muitos aspectos essenciais a várias estruturas portáteis pagãs Egípcias, incluindo a “Tenda da Purificação” (McDowell 110-111). E ainda, de acordo com Êxodo 25-30, foi o próprio Yahvé quem instruiu os Israelitas em como construir o tabernáculo.
Como já é bem conhecido, existem numerosas e exatas similaridades entre a Lei de Moisés e vários códigos legais pagãos primitivos, tais como o Código de Eshnunna, o Código de Lipit_Ishtar e o Código de Hamurábi (Harrison 59-61; Pritchard 162-169). Até mesmo a forma literária da Lei, conforme é apresentada no Livro de Êxodo, é paralela ao formato usado em antigos códigos pagãos do antigo Oriente Médio (Achtemeier 1985:549). Virtualmente todos os eruditos Bíblicos têm notado de que a Lei de Moisés parece ter sido padronizada conforme os códigos pagãos. Acaso significa isto que a Lei de Moisés não seja inspirada? Se fôssemos seguir a mesma linha de raciocínio antimórmon, poderíamos muito bem responder afirmativamente. Mas muitos eruditos discordam e notam que também existem diferenças entre a Lei Mosaica e os Códigos pagãos. Os antigos Cristãos da mesma forma empregaram símbolos e insígnias pagãs e aplicaram-lhes novos significados e contextos. Um dos mais populares tipos simbólicos da ressurreição entre os Cristãos primitivos foi a ave fênix, um símbolo pagão. Eu cito Robin Lane Fox.
Entre os letrados homens pagãos, a fênix tinha há muito tempo exercido uma influência particular. Ela se recriava a partir de suas próprias cinzas e unia o mistério de um lar no Egito com a inauguração de uma nova era. Cristãos foram rápidos em utilizar a ave como um protótipo de suas próprias ressurreições....(639)
Referências à fênix estão espalhadas por toda a antiga literatura Cristã (Fox 639-641; Roberts and Donaldson 1:12, 3:554, 7:324, 441).
De fato, a Igreja Primitiva utilizou várias representações que eram tanto usadas pelos pagãos ou aceitáveis para eles. Cristãos de todas as denominações podem estar interessados em saber que a imagem de Bom Pastor carregando sua ovelha era um símbolo pagão, assim como foram outras imagens que a antiga igreja empregava. Eu cito Henry Chadwick.
…antes do fim do segundo século Cristãos estavam freqüentemente expressando sua fé em termos artísticos. Tertuliano menciona taças nas quais havia a representação do Bom Pastor carregando sua ovelha. Clemente de Alexandria dá instrução sobre a figura apropriada para um anel sinete Cristão.... Clemente recomenda que os Cristãos deveriam usar selos com representações que, sem serem especificamente Cristãs, são prontamente capazes de uma interpretação Cristã, tais como uma pomba, um peixe, um barco, uma lira ou uma âncora....Vale a pena notar que as sugestões de Clemente para selos apropriados eram de todos os tipos que um pagão pudesse usar; isto é, elas eram neutras de um ponto de vista religioso ou moral, e tanto pagãos como Cristão podiam alegremente delas se utilizarem. Da mesma forma, o Bom Pastor carregando sua ovelha era um convencional símbolo pagão de preocupação humanitária, de filantropia. Os Cristãos estavam utilizando um símbolo comum e investindo-o com um novo significado....(277-278)
Um outro convencional símbolo pagão que os Cristãos adotaram foi o Orante (também chamado Oras), uma figura feminina coberta em seu rosto com um véu com suas mãos levantadas para o alto em oração (Chadwick 278; Snyder 19-20). O Orante havia sido usado durante muito tempo como um símbolo cultural pagão, e aparece em moedas romanas e em representações artísticas de sepulcros.
Então o que isso tudo significa? Rejeitaremos portanto o templo de Salomão? Repudiaremos o tabernáculo Mosaico? Desprezaríamos a Lei de Moisés? Denunciaríamos os primeiros Cristãos? Afinal, certamente Deus não permitiria verdadeiros profetas usar tais coisas pagãs repugnantes para construir estruturas sagradas ou para expressar Suas verdades sacras? Certo? Claro que não. A verdade simples e pura é que profetas de Deus têm freqüentemente se utilizado dos símbolos e literatura de seus ambientes culturais a fim de expressar verdades sagradas.
As Mudanças na Investidura do Templo
A visão antimórmon das mudanças da investidura está baseada primariamente numa compreensão fundamentalista das escrituras e de como Deus interage com Seus profetas. Antimórmons são escandalizados que profetas modernos SUD clamariam a autoridade para alterar uma cerimônia a qual fora alegadamente revelada por Deus ao Profeta Joseph Smith.
Entretanto, a posição anti-Mórmon não é razoável à luz do fato de que os profetas da Bíblia exerciam autoridade semelhante com respeito às escrituras e a certas cerimônias reveladas.
Se os críticos anti-SUD ficam perturbados pelas mudanças na investidura, estão eles igualmente condoídos sobre o fato bem conhecido de que Marcos e Lucas deliberadamente amenizaram o papel de Pilatos na execução de Jesus a fim de evitar ofender a audiência Romana? Até hoje, críticos Judeus atacam Marcos e Lucas neste ponto (Levine 26-27; Cohn 164-190).
Estão os antiMórmons chocados pelo fato de que os autores dos Evangelhos do Novo Testamento tomaram a liberdade para omitir ou corrigir itens uns dos escritos dos outros que pudessem ter parecido ofensivos ou inconsistente aos seus leitores? Alguns comentaristas da Bíblia consideram isto ser prova de que os Evangelhos não são inspirados, enquanto outros eruditos mais corretamente enxergam isto como uma clara evidência de que os antigos Cristãos simplesmente não tinham uma visão fundamentalista das escrituras.
Se os críticos anti-SUD vêem as mudanças na investidura como uma evidência contra o templo, acaso levam eles similarmente em questão a antiga fé Hebraica por causa das mudanças na adoração dos Hebreus que Ezequiel foi obrigado a fazer em resultado do cativeiro Babilônico? Por causa destas mudanças, os Hebreus cessaram de observar certos rituais “eternos” os quais Jeová havia previamente lhes ordenado observar. Observe (Harrison 267-268; Achtemeier 1985:80, 305-306, 1014, e as passagens de escrituras nele citadas).
A Visão de Joseph Smith da Maçonaria e as Diferenças entre a Maçonaria e a Investidura
Dois tópicos relevantes que raramente se nunca são seriamente considerados na literatura anti-Mórmon são (1) a visão de Joseph Smith da Maçonaria, e (2) as muitas diferenças entre o ritual Maçônico e a investidura. Críticos anti-SUD freqüentemente evitam o fato de que Joseph Smith via o ritual Maçônico como uma forma corrupta do verdadeiro original. E anti-mórmons estão virtualmente silenciosos nas inúmeras diferenças entre Maçonaria e os ritos templários SUD. Eu acho que seria útil a esta altura citar o erudito SUD Eugene Seaich:
O relacionamento entre a Maçonaria e a Investidura do templo SUD tem sido por muito tempo uma questão de especulação entre os estudantes da História do Mormonismo. Joseph Smith era da opinião que o ritual Maçônico fora uma forma corrupta do Sacerdócio original; mas desde que os próprios Maçons não fazem nenhuma declaração de terem existido antes dos tempos dos construtores das grandes catedrais, antimórmons tem argüido que as similaridades entre os dois possam ser um resultado de deliberado plagiarismo por parte da Igreja. Muito raramente, entretanto, pensam eles em perguntar se o ritual Maçônico em si poderia ser derivado de outras antigas fontes, particularmente de tradições que sobreviveram da Igreja Primitiva. Se isto fosse provado ser o caso, então pode ter sido a Providência antes do que a decepção que levou Joseph Smith a se tornar um Maçom do terceiro nível em 1842, talvez como parte de sua divina educação nos rudimentos do Evangelho Restaurado.
Mais remarcável ainda é que o profeta não apenas alegou ter reconhecido na Maçonaria sobrevivência de antigas práticas templárias, mas que ele ousou corrigir o que havia encontrado, oferecendo em seu lugar o que ele dizia ser o protótipo incorrupto. Desta forma, enquanto o ritual do templo Mórmon realmente carrega alguma semelhança com a Maçonaria, ele também difere em pontos significativos, mostrando que Joseph Smith tinha suas próprias idéias sobre a forma adequada do original. Hoje tem se tornado possível comparar suas idéias com materiais mais recentes descobertos que tratam em primeira mão sobre as antigas tradições templárias. (1984:1)
Acaso se os Maçons houvessem tomado emprestado alguns fragmentos sobreviventes do drama templário, seria apenas prova de que tal adoração realmente existiu na terra em determinada época. As famosas Peças de Mistério da Idade Média também preservavam elementos do drama templário, com seus ciclos de histórias do Velho Testamento didáticas [instrucionais] repetidas em dias santos mais importantes para a edificação e instrução das massas. “Todo homem,” por exemplo, não era outro senão “Adão” ou Israel realizando seu ritual de “peregrinação” através do deserto, um tema que reapareceria também em Bunyan’s, O PROGRESSO DO PEREGRINO
Não temos idéia de quantas maneiras diferentes Deus possa empregar para inspirar homens a obra que ele intenciona lhes realizar; mas é indubitavelmente providencial que Joseph Smith tivesse entrado em contato com os fac-símiles do Livro de Abrão e com a Maçonaria em uma época quando foi dele requerido restaurar o original drama templário em todos os seus detalhes...Joseph Smith sabia de longe muito mais do que os Maçons, cujos rituais são apenas pistas espalhadas de um quadro muito maior e mais perfeito.
Evidência dos Primeiros Cristãos
As surpreendentes semelhanças entre a investidura do templo e os antigos rituais Cristãos de iniciação é uma forte evidência de que Joseph Smith realmente restaurou o antigo drama original do templo.
Os antigos ritos de iniciação parecem ter sido uma confluência da investidura templária com a ordenança do batismo. Não-membros não eram permitidos de ver o ritual, e na maioria dos casos não eram administrados a uma pessoa até que ele ou ela tivesse sido um crente por pelo menos um ano. O ritual era muitas vezes referido como “o mistério”, e todas as outras coisas envolvidas eram ocasionalmente chamadas “os mistérios.” Durante o ritual de iniciação, o candidato poderia ser ensinado em determinados “ensinamentos superiores” os quais foram reservados apenas para membros que estivessem já prontos e dignos de os receberem.
Ensinamentos superiores extra-escriturísticos são mencionados por vários bispos e apologistas Cristãos antigos. Por exemplo, Clemente de Alexandria (150-215 A.D.), um proeminente teólogo da antiga Igreja e cabeça da academia Cristã em Alexandria, declarava que esses ensinamentos superiores não foram incluídos no ministério público de Cristo mas transmitido de forma não escrita pelos apóstolos e foram dados apenas a membros da igreja que estavam qualificados para os receber (MaGill 47). Clemente declarou que estes ensinamentos sagrados eram a chave para entrar nas “esferas mais altas” do céu (MaGill 47).
O ritual de iniciação também incluía a administração de toques e sinais sagrados, cenas do Jardim do Éden como cenário, a repreensão de Satanás com o braço levantado, o uso de vestimentas sagradas brancas (algumas das quais tinham marcas idênticas àquelas dos garments do templo SUD), e a unção de várias partes do corpo com óleo.
É claro que a natureza sagrada do templo mórmon me previne de explicar a significância destes itens em relação à investidura. Entretanto, é suficiente dizer que qualquer Santos dos Últimos Dias que já passou pelo templo irá imediatamente reconhecer a significância destas coisas.
Para aqueles que gostariam de aprender mais sobre o antigo rito de iniciação Cristão e os ensinamentos superiores extra-escriturísticos que os acompanham, sugeria que possam consultar a pesquisa que tem sido feita sobre este assunto por Seaich (1983:56-75; 1984), Stephen E. Robinson (96-103), Hugh Nibley, Blake Ostler, William Hamblin, Roger J. Adams, e Darrick Evenson (71-101).
Conclusão
Quando discutem Mormonismo e Maçonaria, críticos anti-SUD falham em tratar com a evidência que desqualifica ou refuta seus argumentos. Muitos do criticismo que eles advogam contra o templo pode também ser usado contra a adoração antiga Hebraica e os rituais dos primitivos Cristãos.
Antimórmons têm ainda que explicar os impressivos paralelos entre a cerimônia de investidura SUD e os primitivos rituais Cristãos de iniciação. Os primitivos ritos de iniciação da Igreja providenciam evidência para a origem divina da investidura templária SUD.
Joseph Smith viu na Maçonaria remanescentes do original drama templário. Ele portanto achou apropriado e prático empregar alguns elementos Maçônicos a fim de expressar a verdade original conforme havia sido a ele revelado pelo Senhor. Isto de nenhuma forma denuncia a beleza e inspiração do templo.
Ao empregar elementos Maçônicos, o profeta Joseph designou novos significados para quase todos eles e os colocou dentro de contextos teológicos longe daqueles nos quais se achavam originalmente.
Embora há algumas semelhanças entre Maçonaria e o templo Mórmon, existem também muitas diferenças. Além do mais, o ritual Maçônico não possui a intricada e teológica profundidade que está presente nas cerimônias templárias SUD.
Este texto foi extraído de http://www.amai.jc.nom.br/ em 26/11/2008, todos os créditos são de Marcelo Moreira da Silva